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Peru: a um voo do sonho de infância

Existe um conceito do Steve Jobs que norteia a minha vida. Em inglês, connecting the dots – o título de uma palestra que ele proferiu na formatura de uma turma de Direito de Stanford. É sobre seguir nosso coração e intuição mesmo quando eles apontam para direções diferentes da planejada pelo nosso lado racional. Foi assim que o Amabilices (meu blog de viagens) surgiu. É assim que todos os meus sonhos têm se realizado. Talvez, no fundo, seja sempre sobre amor – que é para onde nosso coração nos leva quando nos permitimos ser guiados por ele.

Jobs explica que só é possível conectar os pontos olhando para trás. Ou seja: são as decisões que tomamos que nos permitem fazer essa conexão. Por que decidi contar isso? Em 1995, quando eu tinha 8 anos de idade, entrei na banca de jornal que entrava todos os fins de semana com os meus pais e meu irmão e fiz o que fazíamos sempre. Era o nosso ritual favorito: comprar um sorvete e uma revista em quadrinhos. (Eu, sempre muito tímida, encontrei na leitura uma companhia que não me questionava ou exigia habilidades sociais. Os livros e HQs me aceitavam e acompanhavam sem pedir nada em troca. De quebra, me proporcionavam a incrível possibilidade de viajar pela imaginação). Só que nesse sábado algo diferente aconteceu.

A banca de revistas era grande. Tinha muitos títulos. Livros misturados às publicações tradicionais e coleções, dessas, que existiam para nos convidar a comprar mais que uma edição. Ali, entre histórias em quadrinhos e jornais, um livro me chamou atenção. “Atlas do Extraordinário | Lugares Misteriosos”. Era vermelho, de capa dura e parecia tão absurdamente interessante que insisti e meus pais decidiram comprar. Foi naquelas páginas que vi Nazca pela primeira vez.

Criança que era, me encantei. Não fazia ideia de onde ficava aquela paisagem, mas me convenci de que, um dia, iria conhecer. Ali, aos 8 anos de idade, tive meu primeiro contato com o Peru. Foi bonito, singelo e profundo o suficiente para me marcar. Tenho o livro até hoje.

21 anos depois, logo após lançar meu blog de viagem, ainda sem saber exatamente como essa caminhada seria, fui à minha primeira feira de turismo – o Festival de Turismo das Cataratas, que acontece em Foz do Iguaçu, no Paraná.

Lembro da sensação de chegar ao evento. Mandei fazer meus cartões, vesti minha maior coragem e entrei naquele pavilhão, sem ter ideia do que encontrar. Descobri um mundo novo. Me vi perdida. Tanta gente, tanto destino, tanta empresa. Entre os estandes, estava o do Peru. Segui o rito criado ali:

-Oi, meu nome é Amábyle, sou jornalista e tenho um blog de viagem.

Essa era a apresentação padrão. No meio do caótico conversê das feiras, foi como se o silêncio tivesse surgido. Elson Espinoza parou e me ouviu. Prestou atenção na minha visão de mundo, das viagens e da minha proposta com o blog. Compartilhei o desejo de vivenciar a milenar cultura peruana, de caminhar até Machu Picchu pela trilha inca, de conviver com o povo. Expliquei que ir a pé tinha a ver com a vontade de chegar onde ninguém chega, conversar com quem pouca gente conversa, sentir o que poucos estão dispostos a sentir. Pra mim, viajar é estar aberto para se conectar à essência do destino.

Foi ele quem me sugeriu Salkantay. Que me contou sobre o hotel cápsula suspenso nas montanhas do Vale Sagrado. Que me fez acreditar que o Amabilices, um dia, estaria no Peru – com jornalismo de viagem, não apenas como viajante. Decidi esperar esse dia. Guardei o país na minha lista de destinos cativos: aqueles que moram no coração num cantinho tão dele que “está tudo bem” aguardar o momento certo.

Lembrem: é sempre sobre acreditar. Em abril desse ano fui à World Travel Market, a WTM, uma das maiores feiras de turismo da América Latina. Na visita aos estandes, acompanhando a agenda da Rita Minami, jornalista de turismo que sabe tudo sobre o trade, fomos ao estande do Peru. Ali, Rita me apresentou a Milagros Ochoa, a representante do país no Brasil. O encantamento com que Milagros contava sobre a Rainbow Mountain fez com que mais um ponto turístico entrasse na minha lista de lugares a conhecer. Não há nada mais contagiante do que o amor transmitido por quem fala do país de origem. O espaço do Peru no meu coração só crescia.

Em outubro desse ano voltei a São Paulo. Queria conhecer a ABAV Expo. Precisava seguir minha peregrinação do oi-meu-nome-é-Amábyle-sou-jornalista-e-tenho-um-blog-de-viagem. É só assim que as pessoas nos conhecem, olhando nos nossos olhos, ouvindo nossa voz, vendo nossa paixão.

Voltei ao estande do Peru duas vezes: uma para conversar com Elson e outra, acompanhada pela Rita, para entrevistar a Milagros, a fim de falar mais sobre Lima e tirar as dúvidas mais frequentes dos leitores.

Foi Elson quem me contou sobre o concurso que a Gol Linhas Aéreas e a PromPeru haviam organizado para divulgar o voo direto de Guarulhos para Lima, que começa a ser operado em dezembro deste ano. As regras eram simples – tirar uma foto no estande, postar com uma legenda criativa, usar as hashtags indicadas e marcar os perfis indicados. As duas melhores fotos e legendas ganhariam uma passagem de ida e volta para o destino.

Ora, é claro que eu decidi participar. Na hora de escrever a legenda, lembrei da minha história com o país e de como tudo começou. Achei justo compartilhar! O texto terminou assim:

O Peru segue colorindo, intrigando e permeando meus sonhos de viajante. E as linhas que me conectam ao destino não são mais apenas as de Nazca – a novidade é que a Gol Linhas Aéreas também vai ligar os viajantes ao Peru, com voos diretos para Lima, disponíveis a partir de dezembro desse ano. Eu estou a um voo do país dos meus primeiros sonhos de viajante. E você?! Está a quantos voos?!

A sorte estava lançada! O que era uma legenda para quem estava há vinte e quatro anos esperando por uma viagem ao Peru?! Postei, mandei minhas melhores energias e me visualizei lá. Acreditei fortemente e, como sempre, dei minha piscadinha para Deus: “Lembra, né? Que as nossas vontades coincidam! E, se não coincidirem, que prevaleça a Sua!”.

Nossas vontades coincidiram. No dia 7 de outubro de 2019, recebi a notícia de que havia ganhado o concurso. Chorei de alegria. A Amábyle-menina, aquela, de 8 anos de idade, deu pulinhos de felicidade dentro de mim.

“Ah, mas é só uma passagem”, os mais céticos poderiam dizer. Mas, eu garanto: não existe nada mais bonito do que, agora sim, estar a um voo do destino dos meus sonhos. Afinal, é como o Steve Jobs disse: a gente só consegue conectar os pontos olhando para trás.

Esse texto merece um parágrafo a mais. Esse, que nomeia a gratidão. Ao Elson, meu obrigada por ter me ouvido quando o blog não tinha nem um mês de existência e quando meu sonho ainda não tinha contorno definido. À Milagros, pelo entusiasmo contagiante que desperta em quem ouve a vontade de desbravar o país. À Gol, por me presentear e conectar ao país num voo direto. À Rita, por ser inspiração e fio condutor que me conecta, ao mesmo tempo em que protege. E, aos meus pais, por sempre terem me permitido sonhar – mesmo quando nossas condições permitiam que o Peru existisse apenas na minha imaginação. A vocês, meu amor e gratidão. E que venha o Peru!