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    POETICAMENTE SELVAGEM NORONHA

    Se Macondo ficasse à beira do mar, e não de um rio, Fernando de Noronha seria a terra descrita por Gabriel García Márquez. Isso porque, como já diria o próprio colombiano, Macondo não é um lugar, mas sim um estado de espírito que permite a cada um ver o que quer ver e como quer. E, no arquipélago pernambucano, qualquer variação é vã. Só se vê beleza. Selvagem, abundante. Diferentemente do título do livro em que Macondo se cria, dos Cem Anos de Solidão, embora ilhados, em Noronha, os visitantes nunca ficam sós. Instantaneamente são inebriados pela envolvente companhia do barulho das ondas a bater nas rochas vulcânicas, da brisa leve vinda do Atlântico e do olhar curioso das mabuias – os simpáticos répteis nativos da ilha – sempre a acompanhar.

    Ali, no meio do nada, surge de tudo: aeroporto, restaurantes, pousadas. Estabelecimentos que se integram ao ambiente de forma rústica e que transformam sofisticação em aconchego. É o simples revestido de qualidade. Fernando de Noronha traz a alta gastronomia dos grandes centros com o entusiasmo de moradores dispostos a levar ao turista o sabor extra de um atendimento com o padrão de quem é especialista em acolher. A empatia brota antes mesmo de saborear os pratos, de desfrutar do conforto da cama da pousada ou de ver as cores que os cenários entregam aos visitantes.

    Caminhando por entre as trilhas que levam a paisagens desenhadas por contornos irregulares, sobreposição de tons de azul e verde e movimentos distintos do desenrolar das ondas sobre o mar que entretém os pássaros a sobrevoar os cardumes, a alma se camufla nesse universo, quase imaginário, e a mente esquece dos quinhentos quilômetros que separam a costa das ilhas.

    Dois irmãos: cartão postal da ilha.

    A coloração das rochas denuncia o passado. Negras, revelam o vulcão que já existiu e está extinto há milhares de anos. Os picos feitos de linhas a ligar o alto à terra ou ao mar indicam os desvios do destino ao usar o oceano para encobrir a cadeia de montanhas. Ou, parte delas. O arquipélago é feito de 21 ilhas, ilhotas e rochedos. Vinte e seis quilômetros quadrados de natureza, dezessete deles, habitados, o restante praticamente intacto.

    Das subdivisões que a ilha pressupõe, algumas são geográficas, fáceis de compreender, como o mar de dentro – voltado para o Brasil – e o mar de fora, virado para o continente africano. Outras, um pouco mais complexas, tal qual a linha invisível que distingue a APA (área de preservação ambiental) da área do PARNAMAR (Parque Nacional Marinho). Sobre esse traço que não se vê, essencial é saber que todo o arquipélago é envolto por cuidados, preocupações e estudos ambientais. Por isso, transitar por aqui demanda o pagamento de duas taxas: a TPA (taxa de preservação ambiental), equivalente a 70 reais por dia + o ingresso do parque, que custa 97 reais para brasileiros e 195 reais para estrangeiros – esse ingresso resulta na emissão de uma carteirinha, válida por 10 dias. (Confira a tabela da TPA e as instruções para pagamento online AQUI e os pontos de venda do ingresso do parque neste LINK).

    Outra divisão, a demográfica, é particularmente curiosa e interessante para quem decide onde se hospedar. A ilha é feita de Vila dos Remédios, onde está concentrado o comércio, os prédios históricos e a praia do cachorro – a mais urbana das praias urbanas da ilha -; Vila do Trinta, separada por uns 15 minutos de caminhada da Praça Flamboyant, referência por ser central; e Floresta Nova e Floresta Velha, também a uns 15 minutos de caminhada da praça, dependendo da localização da pousada. As especificidades da localização dão à hospedagem um toque sutil de personalização da experiência.

    Independentemente da escolha, caminhar é preciso. Pisar no calçamento histórico da Vila dos Remédios rumo às praias ou ao Forte de Nossa Senhora dos Remédios é reviver uma história não tão distante. Fernando de Noronha foi avistada um pouco depois do restante do Brasil. Foi em 1503 que Américo Vespúcio desembarcou no paraíso. O território foi doado ao financiador da viagem exploratória, Fernão de Loronha – que rendeu ao conjunto de ilhas o nome pouco usual. Viveram no recanto ecológico também franceses e holandeses, além de presos comuns e políticos, que encontravam no isolamento a punição para as faltas.

    Dado à recompensas pela curiosidade de quem se atreve a conhece-lo, o arquipélago, hoje, é convite ao contraditório sentimento de introspecção e interação. Um chamamento a olhar para dentro ao explorar as belezas de fora. A notar as pequenezas e grandezas nossas ao contemplar a vida marinha, a vegetação e a imensurável fortuna de um ecossistema feito para encantar.

    Amábyle Sandri é apaixonada por natureza e por jornalismo literário. Autora do Blog Amabilices, sente imensa gratidão por poder compartilhar no Turismo em Pauta um pouco da paixão descrita em letras.

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    Peru: a um voo do sonho de infância

    Existe um conceito do Steve Jobs que norteia a minha vida. Em inglês, connecting the dots – o título de uma palestra que ele proferiu na formatura de uma turma de Direito de Stanford. É sobre seguir nosso coração e intuição mesmo quando eles apontam para direções diferentes da planejada pelo nosso lado racional. Foi assim que o Amabilices (meu blog de viagens) surgiu. É assim que todos os meus sonhos têm se realizado. Talvez, no fundo, seja sempre sobre amor – que é para onde nosso coração nos leva quando nos permitimos ser guiados por ele.

    Jobs explica que só é possível conectar os pontos olhando para trás. Ou seja: são as decisões que tomamos que nos permitem fazer essa conexão. Por que decidi contar isso? Em 1995, quando eu tinha 8 anos de idade, entrei na banca de jornal que entrava todos os fins de semana com os meus pais e meu irmão e fiz o que fazíamos sempre. Era o nosso ritual favorito: comprar um sorvete e uma revista em quadrinhos. (Eu, sempre muito tímida, encontrei na leitura uma companhia que não me questionava ou exigia habilidades sociais. Os livros e HQs me aceitavam e acompanhavam sem pedir nada em troca. De quebra, me proporcionavam a incrível possibilidade de viajar pela imaginação). Só que nesse sábado algo diferente aconteceu.

    A banca de revistas era grande. Tinha muitos títulos. Livros misturados às publicações tradicionais e coleções, dessas, que existiam para nos convidar a comprar mais que uma edição. Ali, entre histórias em quadrinhos e jornais, um livro me chamou atenção. “Atlas do Extraordinário | Lugares Misteriosos”. Era vermelho, de capa dura e parecia tão absurdamente interessante que insisti e meus pais decidiram comprar. Foi naquelas páginas que vi Nazca pela primeira vez.

    Criança que era, me encantei. Não fazia ideia de onde ficava aquela paisagem, mas me convenci de que, um dia, iria conhecer. Ali, aos 8 anos de idade, tive meu primeiro contato com o Peru. Foi bonito, singelo e profundo o suficiente para me marcar. Tenho o livro até hoje.

    21 anos depois, logo após lançar meu blog de viagem, ainda sem saber exatamente como essa caminhada seria, fui à minha primeira feira de turismo – o Festival de Turismo das Cataratas, que acontece em Foz do Iguaçu, no Paraná.

    Lembro da sensação de chegar ao evento. Mandei fazer meus cartões, vesti minha maior coragem e entrei naquele pavilhão, sem ter ideia do que encontrar. Descobri um mundo novo. Me vi perdida. Tanta gente, tanto destino, tanta empresa. Entre os estandes, estava o do Peru. Segui o rito criado ali:

    -Oi, meu nome é Amábyle, sou jornalista e tenho um blog de viagem.

    Essa era a apresentação padrão. No meio do caótico conversê das feiras, foi como se o silêncio tivesse surgido. Elson Espinoza parou e me ouviu. Prestou atenção na minha visão de mundo, das viagens e da minha proposta com o blog. Compartilhei o desejo de vivenciar a milenar cultura peruana, de caminhar até Machu Picchu pela trilha inca, de conviver com o povo. Expliquei que ir a pé tinha a ver com a vontade de chegar onde ninguém chega, conversar com quem pouca gente conversa, sentir o que poucos estão dispostos a sentir. Pra mim, viajar é estar aberto para se conectar à essência do destino.

    Foi ele quem me sugeriu Salkantay. Que me contou sobre o hotel cápsula suspenso nas montanhas do Vale Sagrado. Que me fez acreditar que o Amabilices, um dia, estaria no Peru – com jornalismo de viagem, não apenas como viajante. Decidi esperar esse dia. Guardei o país na minha lista de destinos cativos: aqueles que moram no coração num cantinho tão dele que “está tudo bem” aguardar o momento certo.

    Lembrem: é sempre sobre acreditar. Em abril desse ano fui à World Travel Market, a WTM, uma das maiores feiras de turismo da América Latina. Na visita aos estandes, acompanhando a agenda da Rita Minami, jornalista de turismo que sabe tudo sobre o trade, fomos ao estande do Peru. Ali, Rita me apresentou a Milagros Ochoa, a representante do país no Brasil. O encantamento com que Milagros contava sobre a Rainbow Mountain fez com que mais um ponto turístico entrasse na minha lista de lugares a conhecer. Não há nada mais contagiante do que o amor transmitido por quem fala do país de origem. O espaço do Peru no meu coração só crescia.

    Em outubro desse ano voltei a São Paulo. Queria conhecer a ABAV Expo. Precisava seguir minha peregrinação do oi-meu-nome-é-Amábyle-sou-jornalista-e-tenho-um-blog-de-viagem. É só assim que as pessoas nos conhecem, olhando nos nossos olhos, ouvindo nossa voz, vendo nossa paixão.

    Voltei ao estande do Peru duas vezes: uma para conversar com Elson e outra, acompanhada pela Rita, para entrevistar a Milagros, a fim de falar mais sobre Lima e tirar as dúvidas mais frequentes dos leitores.

    Foi Elson quem me contou sobre o concurso que a Gol Linhas Aéreas e a PromPeru haviam organizado para divulgar o voo direto de Guarulhos para Lima, que começa a ser operado em dezembro deste ano. As regras eram simples – tirar uma foto no estande, postar com uma legenda criativa, usar as hashtags indicadas e marcar os perfis indicados. As duas melhores fotos e legendas ganhariam uma passagem de ida e volta para o destino.

    Ora, é claro que eu decidi participar. Na hora de escrever a legenda, lembrei da minha história com o país e de como tudo começou. Achei justo compartilhar! O texto terminou assim:

    O Peru segue colorindo, intrigando e permeando meus sonhos de viajante. E as linhas que me conectam ao destino não são mais apenas as de Nazca – a novidade é que a Gol Linhas Aéreas também vai ligar os viajantes ao Peru, com voos diretos para Lima, disponíveis a partir de dezembro desse ano. Eu estou a um voo do país dos meus primeiros sonhos de viajante. E você?! Está a quantos voos?!

    A sorte estava lançada! O que era uma legenda para quem estava há vinte e quatro anos esperando por uma viagem ao Peru?! Postei, mandei minhas melhores energias e me visualizei lá. Acreditei fortemente e, como sempre, dei minha piscadinha para Deus: “Lembra, né? Que as nossas vontades coincidam! E, se não coincidirem, que prevaleça a Sua!”.

    Nossas vontades coincidiram. No dia 7 de outubro de 2019, recebi a notícia de que havia ganhado o concurso. Chorei de alegria. A Amábyle-menina, aquela, de 8 anos de idade, deu pulinhos de felicidade dentro de mim.

    “Ah, mas é só uma passagem”, os mais céticos poderiam dizer. Mas, eu garanto: não existe nada mais bonito do que, agora sim, estar a um voo do destino dos meus sonhos. Afinal, é como o Steve Jobs disse: a gente só consegue conectar os pontos olhando para trás.

    Esse texto merece um parágrafo a mais. Esse, que nomeia a gratidão. Ao Elson, meu obrigada por ter me ouvido quando o blog não tinha nem um mês de existência e quando meu sonho ainda não tinha contorno definido. À Milagros, pelo entusiasmo contagiante que desperta em quem ouve a vontade de desbravar o país. À Gol, por me presentear e conectar ao país num voo direto. À Rita, por ser inspiração e fio condutor que me conecta, ao mesmo tempo em que protege. E, aos meus pais, por sempre terem me permitido sonhar – mesmo quando nossas condições permitiam que o Peru existisse apenas na minha imaginação. A vocês, meu amor e gratidão. E que venha o Peru!

  • Destinos

    SALTA, LA LINDA!

    Feita de história, cultura e tradição, Salta, vista de cima, parece um aglomerado de pecinhas de Lego, encaixadas para encantar. É o equilíbrio perfeito entre o mundo urbano e a natureza. Com um perfil predominantemente horizontal, as construções verticais se destacam – e são poucas. 

    La linda, tradução de “sagta”, na língua indígena aimará, era uma cidade de passagem para quem vinha do sul em direção às minas de Potósi, na Bolívia. Com a independência da Espanha, o movimento intenso por aqui mudou. O que permanece igual é o apreço pelas características originais da cidade. Na Plaza 9 de Julio isso fica evidente. 

    Da Catedral Basílica de Salta, datada do século 19, aos museus que delimitam a praça, a arquitetura colonial se destaca. Nos arredores estão a Catedral – fundamental para a compreensão da história da cidade -, o Museu de Arte Contemporânea e o Museu de Arqueologia de Alta Montanha – que abriga os niños de Llullaillaco, três crianças oferecidas num ritual inca e encontradas intactas em 1999 numa montanha de 6.739 metros, por uma equipe da National Geographic. Por ali você encontra também o Cabildo Histórico de Salta, edifício restaurado do governo, com construção original de 1700, além do Museu Güemes e a imponente Igreja de São Francisco.

    Catedral Basílica de Salta

    A jovialidade fica por conta dos bares e restaurantes ao longo da Calle Balcarce, onde drinks e música típica dão ritmo à noite salteña.  

    A rua onde está concentrada a vida noturna de Salta!

     A bordo do Tren a las Nubes é a natureza quem assume o protagonismo. Natureza aliada ao conhecimento do homem, em um dos trajetos mais altos da terra – em que os trilhos nos conduzem 4.200 metros acima do nível do mar, num dos passeios mais surreais que já fiz. 

    Em frente à estação ferroviária de onde parte o trem, aos domingos acontece uma feirinha de artesanato que se estende por toda a Calle Balcarce. Uma ótima pedida para conhecer preciosidades feitas à mão, como os ponchos de lã de lhama.

    Paralelamente ao entrelaçar de paisagens estonteantes com a história, a religiosidade se faz presente, inclusive, no calendário de eventos da cidade. É que em 13 de setembro de 1600, Salta enfrentou um terremoto. Dois dias seguidos de tremores e tudo estava destruído. Aí, o arcebispo lembrou que a Catedral havia ganhado duas imagens de presente de Tucuman e ordenou que procurassem as estátuas dos santos. Quando foram encontradas, em meio aos escombros, as imagens do Señor Jesus e da Virgen del Milagre estavam intactas. Em 15 de setembro os fiéis decidiram fazer uma procissão para os santos e os tremores cessaram. Os salteños atribuem à interseção o fim dos tremores e, em agradecimento, fazem uma festa anual que reúne mais de 600 mil pessoas – parte delas vem em procissão desde San Antonio de Los Cobres, uma caminhada de 160 quilômetros de fé. 

    Outro local que reúne fiéis é o Santuário da Virgen del Cerro. Em 1990, uma camponesa chamada María Livia estava na colina, próxima a Salta, quando viu Maria. Os encontros seguiram acontecendo e ela comentou com a família. Aos poucos, devotos de Maria começaram a surgir para encontrar a camponesa. Hoje, o local virou um Santuário onde Maria Lívia faz orações pelos fiéis aos sábados. Além de ser um local de fé e devoção, a colina tem uma vista lindíssima da cidade. 

    Manifestações de fé espalhadas pelo Santuário.

     E, se o assunto é o melhor ponto para ver Salta das alturas, o Teleférico San Bernardo está, sem dúvidas, no ranking. Com saída da praça San Martín – uma das principais da cidade – a subida já permite apreciar a integração urbano-rural. Lá de cima, vários mirantes proporcionam vistas surpreendentes. De quebra, é possível comprar souvenirs e tomar um café – ou um vinho! 

    Dica: reserve pelo menos 3 dias completos para desbravar Salta! Outra sugestão é montar um roteiro de 6 noites – com uma noite em Purmamarca e duas noites em La Caldera. O norte argentino é uma região que merece ser explorada com calma e entrega!

  • Vista aérea de Goiânia
    Destinos,  Goiás,  Matérias,  Press Trip,  Turismo em Pauta

    O que fazer em Goiânia – Dicas e curiosidades da capital

    Na esquina da 5ª com a 4ª, o recorte verde é um respiro para o cenário urbano. O encontro das ruas poderia levar ao emblemático Washington Square Park, em Nova Iorque, mas se trata da Praça Mestre Maria Henriqueta Peclat, um dos espaços que exemplificam porque Goiânia  está no ranking das cidades mais arborizadas do Brasil.

    As semelhanças entre a capital goiana com os Estados Unidos não param por aí. Foi de lá que veio a inspiração para a escolha do nome das ruas – que são, na maioria, números. Attilio Corrêa Lima, engenheiro arquiteto que assinou o plano urbanístico da cidade, se espelhou no racionalismo do explorador britânico William Penn. É que ao fundar a Filadélfia, em 1682, ele propôs o esquema numérico para organizar as ruas. Modelo replicado por L´Enfant, em Washington, e também na ilha que foi a referência inicial do texto, Manhattan.

    Se a influência das ruas veio da América do Norte, o traçado arquitetônico veio de mais longe: atravessou o Oceano Atlântico. Diretamente da Europa, a  art déco fez morada nos prédios públicos de Goiânia, 22 deles (entre prédios e monumentos) são tombados pelo Iphan, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A mais importante das edificações é o Palácio das Esmeraldas – residência oficial do governo do estado desde 1937, quando a cidade virou capital de Goiás. Fazendo jus ao nome, o prédio carrega a cor da pedra preciosa e é facilmente reconhecível pelo busto de Pedro Ludovico Teixeira, médico que coordenou a criação da nova capital – parte do plano da Marcha para o Oeste, uma estratégia do governo de Getúlio Vargas para a acelerar o desenvolvimento e ocupar o centro-oeste do Brasil.

    Palácio das Esmeraldas

    O Palácio das Esmeraldas é um dos atrativos da Praça Cívica. Outro destaque é o Monumento às Três Raças. A estátua, de proporções robustas, tem o mesmo peso do que historicamente representa: ali estão um homem branco, um negro e um indígena. Leitura da artista plástica Neusa Rodrigues Moraes sobre os povos que fizeram de Goiás o que do estado se fez. Os brancos são os bandeirantes, vindos de São Paulo em busca de ouro; os negros, os escravos e os índios, o povo que ali já morava e foi integrado ao processo da exploração do ouro.

    Monumento às Três Raças

    É a contemporaneidade da obra de Siron Franco que, a alguns metros dali, dá o tom ao espaço. No lado direito da praça, para quem olha da Avenida Goiás, um mural espelhado divide passado e futuro. De um lado, estão os índios carajás, ancestrais a quem pertenciam as terras. Do outro, crianças, na representação do que ainda está por vir.

    O passado está – literalmente – enraizado pela cidade. São mais de 900 mil árvores espalhadas por todos os bairros. A concentração de verde é mais visível nos 32 parques e bosques. Áreas que foram criadas tanto para preservar a mata existente quanto para recuperar espaços degradados, como o Parque Vaca Brava. Embora o nome popular seja esse – em alusão aos animais que ali atolavam antigamente -, a nomenclatura oficial é Parque Sulivan Silvestre, em homenagem ao ambientalista e ex-presidente da Funai. Transformado em área de proteção ambiental, por conta da nascente e do córrego que passa pelo terreno, hoje o parque tem uma estrutura que proporciona o contato com a natureza, mesmo em meio à cidade.

    Num parque também acontece a tradicional Feira do Cerrado. Artesãos de todo o estado se reúnem para expor e comercializar as peças produzidas por eles. Tem patchwork, crochê, pinturas, cerâmicas entre outros artesanatos, além de barraquinhas com quitutes regionais. A feira acontece no Parque da Criança, atrás do Estádio Serra Dourada, aos domingos, das 9h às 12h.

    Goiânia viaja pelos outros estados através da música. E faz tempo! Seja pelo romantismo de Leonardo, que marcou época avisando “aqueles olhos lindos que eu já cheguei” ou pela busca incessante de Jorge e Mateus pela paixão goiana, numa letra em que o apaixonado percorre várias cidades de Goiás. Berço de grandes nomes do sertanejo, a cidade foi a escolha como endereço fixo de Leonardo, Eduardo Costa, Gusttavo Lima, Maiara e Maraisa, Simone e Simaria, Zé Neto e Cristiano, Naiara Azevedo e até de Amado Batista e Joelma, a ex-calypso. Não à toa. A cidade respira sertanejo e se orgulha disso. O Villa Mix Festival Goiânia, por exemplo, foi eleito, em 2017, pelo Guinness Book – o livro dos recordes – como o maior palco do mundo. A organização do evento segue na busca pela manutenção do título. Na edição de 2018, a altura do palco superou o ano anterior e atingiu quase 70 metros, o equivalente a um prédio de 23 andares.

    Eclética, a capital tem espaço para outros estilos musicais. O pop rock é forte, assim como a música eletrônica. Curiosidade: o DJ Alok nasceu aqui. A vida noturna feita de bares – que começam já na happy hour – e baladas, das que vão até o sol nascer, atrai quem curte uma boa festa. Dos setores, o que concentra a maior quantidade de bares é o Marista.

    Convidativa tanto para os viajantes que gostam do dia quanto para aqueles que preferem a noite, Goiânia impressiona pelas ruas planejadas, pela culinária apurada e pelo jeitinho receptivo do povo que não se cansa em receber bem!

    Onde se hospedar

    Durante minha breve passagem por Goiânia, me hospedei em dois hotéis: o Bristol Evidence Hotel e o Mercure Goiânia. Ambos são extremamente confortáveis e aconchegantes. O Evidence é um apart hotel equipado com cozinha completa e um ambiente integrado de sala de estar e suíte, além da sacada. Fica no Setor Pedro Ludovico, a 5 km do Bosque dos Buritis. Bônus: tem uma vista maravilhosa da cidade.

    Bristol Evidence Hotel

    Já o Mercure Goiânia está localizado no Setor Oeste, a menos de 10 minutos de carro do Centro de Convenções e do Estádio Serra Dourada. O quarto é amplo e moderno. O conforto segue o padrão da rede Mercure. Elogio para a simpatia dos atendentes, que foram extremamente solícitos.

    Mercure Goiânia

    Onde comer

    JP Steak House

    É uma churrascaria de carnes nobres em que o rodízio acontece sem espeto. Traz o conceito americano. As carnes são servidas em tábuas e os acompanhamentos vêm empratados. Além da carne, são servidas saladas, risoto, ceviche, steak tartar e até camarão. O valor surpreende: R$59,90 o jantar e o almoço de segunda a sexta. (Valores referentes a maio de 2019). A casa cria promoções com frequência, por isso, vale a pena ficar de olho nas redes sociais. Sobre as sobremesas, os sorvetes são artesanais e exclusivos. Recomendação: sorvete de ninho trufado com doce de leite argentino e alfajor uruguaio. Uma loucura de sabor!

    JP Steak House - Goiânia

    Nota: O Blog Amabilices visitou Goiás a convite da ABIH GO (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Goiás) em parceria com o Governo do Estado, numa Press Trip com o objetivo de apresentar o destino aos viajantes do Brasil e do mundo!

  • Matérias,  Press Trip,  Turismo em Pauta

    Goiás em foto: um resumo de 5 dias de Press Trip por terras goianas

    Nas ruas de Goiás tem poesia. As janelas abertas reservam histórias a contar. Cada sorriso pelo caminho revela a simplicidade de um povo rico em acolher. Nos acolheram. Na Press Trip organizada pela ABIH Goiás, um roteiro-express sintetizou a alma goiana em seis paradas: Goiânia, Pirenópolis, Salto Corumbá, Cidade de Goiás, Trindade e Caldas Novas.

    Com suas peculiaridades, os destinos surpreenderam nos detalhes que os fazem únicos. E, enquanto a paixão se aquieta dentro de mim, no processo de recolhimento da escrita, fiz um resumo fotográfico de cada momento da viagem. Vamos lá?!

    Goiânia

    A viagem começou por Goiânia. A cidade – planejada e construída para ser capital de Goiás- revela preciosidades da arquitetura, como a maior quantidade de prédios públicos no estilo art déco. A maior referência do perfil arquitetônico é o Palácio das Esmeraldas, na Praça Cívica. O prédio é sede do governo do estado desde 1937.

    Num city tour de ônibus, passamos por alguns dos parques da cidade. Isso porque seria impossível visitar todos: são 32 ao todo. A volta pelos principais bairros deixou transparecer os motivos pelos quais Goiânia é considerada uma das cidades com maior qualidade de vida do país.

    Pirenópolis

    Cercada pela Serra dos Pirineus – que recebeu esse nome em homenagem às montanhas que separam Espanha e França – a cidade é uma mistura de charme e natureza.

    A recepção foi no Refúgio Avalon. O espaço foi pensado para proporcionar mais que integração ao meio ambiente. Ali, cachoeira, jardim sensorial e uma gruta para depositar e realizar desejos potencializam a busca pelo autoconhecimento (um dos pontos altos da experiência).

    O almoço foi na elegante Villa do Comendador. A pousada está no roteiro charme de Pirenópolis.

    Durante a tarde, fizemos um city tour pelas construções históricas – como a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Reconstruída após um incêndio, ela é considerada pioneira em termos de arquitetura por conta das claraboias que evidenciam a iluminação natural e da acústica, pensada para as missas, que eram rezadas pelo padre em latim e de costas para os fiéis.

    A vista da janela do andar superior da igreja.

    O jantar foi na Pousada dos Pireneus, um dos maiores hotéis da cidade. O resort conta com estrutura para realização de eventos.

    Pirenópolis está numa região generosa em quantidade de cachoeiras. 50 delas são abertas para visitação e todas ficam em propriedades particulares. Visitamos a Cachoeira do Abade. Referência em turismo responsável, a estrutura foi pensada para minimizar os impactos ambientais causados pelos turistas. Um exemplo disso são as trilhas pavimentadas até as cachoeiras.

    Próxima parada: Salto Corumbá!

    O complexo de lazer às margens do rio Corumbá reúne cachoeiras, piscinas, lagoa para pesca, tirolesa, boia cross, passeio de cavalo, tobogãs entre outras atividades. O ponto alto da visita é a Cachoeira do Salto que, com 50 metros de altura , já foi capa da revista americana National Geographic.

    Cidade de Goiás

    Repletos do lirismo contagiante da cidade, os grupos artísticos prepararam uma recepção com jantar e apresentações que simbolizam a agenda de eventos que acontecem anualmente na antiga capital de Goiás.

    Os farricocos representaram a Procissão do Fogaréu – festa tradicional realizada há mais de 260 anos na cidade.

    Tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, Cidade de Goiás tem 900 casas protegidas e mantidas com as características originais. Nas ruas de pedra, o passado de mineração se revela.

    Três museus são parada obrigatória: a Casa de Cora Coralina, onde os cômodos abrigam os itens pessoas da poetisa, num tour que mistura antigo e contemporâneo; Museu de Arte Sacra da Boa Morte, no qual estão reunidas peças que recontam a história do estado, entre elas, esculturas originais de Veiga Valle – considerado o “Aleijadinho goiano” e o Museu das Bandeiras, antiga câmara e cadeia da cidade, preservado no local reservado para construções oficiais desde 1776.

    Quarto de Cora Coralina

    Museu das Bandeiras

    Rita Minami e Tia Tó, no Museu de Arte Sacra da Boa Morte

    A dica é experimentar os picolés de frutas típicas vendidos no Coreto, na praça principal da cidade. Esse é de cajazinho. Uma delícia!

    Trindade

    Uma medalha com a imagem do Divino Pai Eterno mudou a história de Trindade, quando foi encontrada por um casal de lavradores, em 1840, às margens do córrego do Barro Preto. A história correu e com o passar dos anos a cidade virou ponto de peregrinação. Anualmente, 4 milhões de pessoas visitam o município, que conserva a primeira igreja construída pela comunidade e também a Basílica do Divino Pai Eterno, de onde são transmitidas as missas na Rede Vida.

    Caldas Novas

    Conhecida como o recanto das águas quentes, Caldas Novas tem mais de 100 mil leitos distribuídos numa estrutura com vasta oferta de resorts e complexos de lazer.

    Um deles é o Lagoa, onde está a fonte que deu origem à cidade. Ela tem águas que hoje ficam na casa dos 40 graus e estão ao lado do Rio Pirapetinga.

    Num passeio aéreo, foi possível observar a distribuição dos resorts, além dos condomínios de lazer às margens do lago de Corumbá – outro atrativo da cidade.

    Ao longo de 5 dias percorremos centenas de quilômetros, experimentamos delícias da gastronomia regional, visitamos cantinhos únicos, como o quarto de Cora Coralina, vivemos emoções difíceis de descrever em meio à natureza.

    Goiás deixou gosto de quero-mais misturado à saudade cantadinha de um coração que repete: “quando eu quero mais, eu vou pra Goiás”!