Politica

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    ADVB repudia atitudes antidemocráticas

    Pautadas na violência contra o Estado de Direito, a exemplo do que ocorreu em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023, atitudes antidemocráticas merecem mais do que o nosso repúdio e a punição exemplar dos culpados, sob o rigor da lei.
    Mais do que nunca, a sociedade civil organizada há de reconduzir a nação brasileira à união de forças rumo à retomada do desenvolvimento sustentável e regenerativo.
    A Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil – ADVB-SP vem a público endossar apoio irrestrito às medidas legais em defesa da ordem pública, bem como oferecer modesta contribuição para integrar essa união de forças. 
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    O PRIMEIRO OLHAR

    GAUDÊNCIO TORQUATO

    O primeiro olhar nem sempre traduz a essência do ente observado, seja ele uma pessoa, um fato, um governo. Mas não deixa de mostrar sinais que interpretam as imagens colhidas por nossos sistemas cognitivos. Sob esse amanhecer, ainda turvo, este analista tenta enxergar os primeiros passos do governo Lula 3, sem pretensão de julgar, criticar, opinar, e com o mero propósito de ajudar a entender o que poderemos ter pela frente no exercício da administração federal nos próximos anos. Começo com a inferência de que Lula da Silva será um governante muito centralizador, chamando a si as decisões de viés polêmico, como mostrou em sua primeira reunião com os 37 ministros, ocorrida nesta última sexta feira. O risco de divergências em um corpo tão comprido de integrantes é grande, maior do que no passado. A imagem do governo, ante eventuais querelas ministeriais, estaria muito abalada e Lula quer blindar sua administração desde já. O país político abriga, no ciclo que se inaugura, um infindável escopo de demandas, visões diferentes, correntes partidárias, ainda ferventes na onda do polarizado e disputado pleito eleitoral. Que rachou o país ao meio. Mesmo com o acentuado discurso de que governará para todos, Lula deverá enfrentar tempestades no curto e médio prazos. Deixemos o longo prazo para depois. Não é possível enxergar longe. Irá conter os quadros sob sua ordem de integração de pensamentos e ideias? Depende. Se a economia deslanchar e as nuvens se dissiparem, essa hipótese será viável. Mas não se espere calmaria ao redor da Torre, que pode ser a de Babel, cheia de brados, uns contra outros. Donde é razoável prever a troca de figurantes na Esplanada dos Ministérios. Outro imbróglio a ser objeto de polêmica é o teor do petismo na administração. É conhecido o propósito de voltar a instalar uma era hegemônica por parte do PT. Que pensa em lubrificar os parafusos da engrenagem administrativa, ocupando cargos-chave e espaços que possam aumentar seu poder. Lula, porém, foi eleito por uma frente ampla de partidos e correntes. E sabe que milhares de eleitores votaram nele por defender a ordem democrática. Não por simpatia a ele ou apoio ao PT. A consciência democrática motivou parcela do eleitorado. Tal consciência tende a se espraiar pela comunidade política, a ponto de ser ela, em 2026, o ponto dentro da curva a definir o sucesso de uns e o insucesso de outros na moldura eleitoral. Lula sabe disso, experiente que é, mas o PT tem outro pensamento. Vai lutar para estender sua condição de primeiro ente partidário. PT versus frente ampla será um problema para Lula administrar. Na sequência das montanhas que Lula deverá escalar, está sua visão – o teto de gastos é uma estupidez  – e a visão do bom senso, ancorada na opinião de economistas e investidores, que prega responsabilidade fiscal, sustentabilidade das contas públicas. Fernando Haddad, o ministro da Fazenda, mais parece, hoje, um dândi na escuridão ou, em outra imagem, um ministro saltando entre a cruz e a caldeirinha. O que diz abala o mercado. E o que não diz também. A ministra Simone Tebet, do Planejamento, será o contraponto ao desenvolvimentismo gastador de Haddad. Os eventos acontecem na esteira das circunstâncias. Na área do meio ambiente e mudanças climáticas, será travada a mais contundente batalha. As medidas e os meios de controle e de punição, criados sob a visão da ministra Marina Silva, propiciarão imagens impactantes para uso da mídia e ajustamento do país à pauta ambiental. A ex-senadora é um dos ícones mais festejados do ambientalismo do planeta. E a cara do Brasil tende a criar simpatia no contexto das Nações. Economia consolidada, garantindo crescimento razoável do PIB; contas públicas sob olhar não tão severo do chefe Haddad; esfera política satisfeita com atendimento a suas demandas; frente de apoio no Congresso que seja capaz de aprovar a agenda do Executivo; extenso cobertor social que cubra todo o corpo das margens carentes e consiga agradar os estômagos famintos; e um estilo de governar sem ranços de vingança e que contenha a ambição desmesurada do PT – são esses os sinais que se enxergam, desde já, para o país chegar ao porto seguro de 2026. Para um governante bem-sucedido, dizer que não será candidato à reeleição é lorota. Lula promete se conter com este mandato. Blefe. Claro, não pode e não deve acenar com esta possibilidade hoje. Abriria uma toada de zangas e divergências. Mas as glórias do poder acalentam corações e mentes. Mais ainda, figuras que vestem o manto de reconstrutor do país.
    Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político
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    CRONICANDO

    GAUDÊNCIO TORQUATO

    O analista político costuma usar uma veia por onde corre a seiva de seu pensamento: é o artigo, o comentário, o texto interpretativo. O roteiro é conhecido: a hipótese, no início, a argumentação, no meio, e a conclusão, ao final. Já aos poetas (cronistas, acrescento) e pintores abre-se a mente criativa, com o jogo de palavras, o uso das metáforas, a imbricação de figuras de linguagem, os versos, o ritmo, enfim, a leveza das frases sob a permissão que Vergílio lhes concedia na Eneida: “poetis et pictoribus, omnia licet” (aos poetas e pintores, tudo é permitido). E se o articulista optar pela seara que não é bem a sua? Tentar, por exemplo, caminhar pela vereda dos sentimentos, pelas dobras do coração, pela complexa maquinaria da linguagem para conseguir o intento de ler a política e o espírito do tempo, adotando outra modelagem, sem recorrer a narradores que não ele? Intuo que os leitores perceberam meu desejo de seguir essa trilha. Pois vamos lá. Começo com o óbvio: o Natal está chegando e os sinais mostram o espírito do tempo: sacolas cheias nos shoppings, trânsito intenso, irritação dos mais apressados, ruas cheias, a contraditar a expressão de que as luzes natalinas iluminam um tempo de paz e harmonia. Haverá paz na era da competição? Não no campo da política, espaço de contendas e emboscadas, de ódio e vingança. Arengueiros de todos os calibres estão a postos, conquistando ou reconquistando o poder para abater adversários e aqueles que não comungam com seus interesses. Habitantes dos assentos nas arquibancadas da política procuram seus lugares nos estádios construídos por mandatários.  O céu para uns, o inferno para outros. Pátria amada, Pátria desarmada, pregam os desafetos. Estocadas recíprocas. A guerra não cede aos contendores. Cada qual tem balas no bornal. Uns, limpando a poeira, refazem imagens com a tintura das estações. Outros, procurando novo habitat, se refugiam nas dispersas ilhas do imenso arquipélago. Guerreiam para ganhar lugar na ilha principal, no centro do território. Lá onde só se respira poder. Nos desvãos do inconsciente, a historinha alimenta predadores e suas caças. “Toda manhã na África, a gazela acorda. Ela sabe que precisa correr mais rápido que o mais rápido dos leões para sobreviver. Toda manhã na África um leão acorda. Ele sabe que precisa correr mais rápido que a mais lenta das gazelas senão morrerá de fome. Não importa se você é um leão ou uma gazela. Quando o sol nascer, comece a correr.” Triste realidade. Nascer, crescer, amadurecer e lutar para sobreviver na corrida da vida, cumprir as leis, seguir os ditames, sob pena de ser engolido pelas garras ferozes do “homem (que) é o lobo do homem”,  conforme apregoava Thomas Hobbes. É essa a cena que estamos vendo em terras do planeta, onde irmãos se tornam inimigos uns dos outros, vivendo um conflito pela conquista de territórios. Todos de um lado contra todos de outro. O desânimo é o ânimo sem vontade. Como animar-se depois de uma tragédia que matou perto de 700 mil pessoas em nossas plagas? Que harmonia podemos construir vivendo um clima de final de ano em um país que viu sumir a alegria de milhões de famílias? A intensa gastronomia natalina pode saciar o apetite dos estômagos, mas não supre as carências da mente. O olhar para a manjedoura, nas igrejas e nos lares cristãos, contempla a mãe, Maria, o pai, José, e o filho, o criador que nasceu para nos salvar. Mas o olhar vem acompanhado de aflição e angústia, sob a tênue esperança de um futuro menos doloroso.   Como salvar os seres que vivem sob o ódio, destilam o veneno da crueldade, depredam propriedades privadas e públicas, despindo o véu de sua humanidade? Onde estão o bucolismo dos tempos de outrora, a conversa nas calçadas, os passeios tranquilos nas tardes e na boquinha da noite? A memória dos nossos antepassados vai se perdendo na poeira do tempo, sufocada pelo turbilhão de barulhos e clamores da agitada vida urbana. Resta como consolo a pequenina chama de nossos candieiros, uma fatia de crença de que o amanhã será melhor do que o ontem, o sinal de que a ciência avança, abrindo as gavetas de remédios e drogas capazes de estender o tempo de nossas vidas. Resta ouvir as palavras do velho Zaratustra, no alto da montanha, sobre a beleza da vida: – Amo o que ama a sua virtude, porque a virtude é vontade de extinção e uma seta do desejo… Amo o que faz da sua virtude a sua tendência e o seu destino, pois assim, por sua virtude, quererá viver ainda e deixar de viver…. É tempo que o homem tenha um objetivo… É tempo que o homem cultive o germe da sua mais elevada esperança…. É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante. 
    Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político
  • Politica

    Paranbulas políticas por Gaudêncio Torquato.

    Porandubas Políticas | Por Gaudêncio Torquato – 14/12/2022


    Abro as Porandubas com as hilárias historinhas de “Seu Lunga”. Lembram-se do cearense muito educado?

    Elevador

    Seu Lunga, no elevador (no subsolo-garagem). Alguém pergunta:

    – Sobe?

    Ele:

    – Não, esse elevador anda de lado.

    Tá doente?

    Seu Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta:

    – Tá doente?

    – Quer dizer que se eu fosse saindo do cemitério, eu tava morto?

    Tá bom, pai

    Seu Lunga dava uma tremenda surra no filho e o menino gritava:

    – Tá bom, pai! Tá bom, pai! Tá bom, pai!

    – Tá bom? Quando tiver ruim, você me avisa, que eu paro.

    No polo Norte

    O amigo liga para sua casa e pergunta a seu Lunga:

    – Onde você está?

    E ele:

    – No Polo Norte! Um furacão levou a minha casa pra lá!

    Levou os discos?

    Na década de 70, seu Lunga chega num bar e fala pro atendente:

    – Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir!

    – Desculpe, seu Lunga, não posso botar música hoje…

    – Mas por que?

    – Meu avô morreu!

    – E ele levou os discos, foi?

    Agora, uma voltinha por nossas terras…

    • Secos & Molhados

    Simone

    Simone Tebet, que ansiava pela Pasta da Cidadania, responsável pelo Bolsa Família, foi queimada pelo PT. Não vai para o lugar. É o que leio.

    Mercadante

    Mercadante, hoje presidente da Fundação Perseu Abramo, do PT, vai presidir o BNDES. E sustar o programa de privatizações. Gabriel Galípolo, economista, vai para a Fazenda. Mercado reage contrário aos perfis. Os juros futuros sobem ao espaço. Sinalização de descontrole nas contas públicas.

    Ciumeira

    O desempenho de Alckmin no governo de transição deu muita ciumeira no PT. O vice-presidente eleito será monitorado por mil olhos.

    PF

    Prepara-se para ingressar na era mais profissional. Sem ser alvo da mídia. Expectativas.

    A grande expectativa

    O governo de transição, cujos trabalhos se encerraram, hoje, trouxe muita expectativa. De mais de mil pessoas, pelo menos quinhentas continuam esperando participar do governo Lula.

    Os escolhidos

    Não tem havido surpresas, até o momento, na lista de ministros escolhidos por Lula. Tudo dentro do previsível.

    Maria Lecticia

    Acaba de lançar um livro sobre alimentos na Bíblia: “A Mesa de Deus”. Trata-se de um interessante trabalho de pesquisa da autora, que se debruça sobre o tema há 10 anos. A escritora vem a ser imortal na Academia Pernambucana de Letras e é esposa do imortal da Academia Brasileira de Letras, o maior especialista em Fernando Pessoa de nossas e outras plagas, o afamado advogado pernambucano, aclamado escritor José Paulo Cavalcanti Filho, que foi ministro da Justiça do governo Sarney. Uma formidável pessoa (Fernando…que o diga)!

    Lula mais comedido

    Lula leva para seu terceiro mandato o peso dos anteriores. Experiência. Ficou mais maduro. Mais tarimbado no trato de pressões e contrapressões. Não quer desperdiçar tempo. Veio com muita sede ao pote do poder.

    Mourão e Damares

    O atual vice presidente da República, Hamilton Mourão, vai ter um bom treinamento no Senado. Deve mudar a visão que tem dos políticos. E a senadora Damares Alves, a pastora, aprenderá na cartilha da política a ter menos visões radicais. O Senado lhe mostrará os caminhos da flexibilidade.

    O general Heleno

    Ao ter início o governo Bolsonaro, o general reformado Heleno, da Abin, conservava imagem de zeloso militar. Teve a imagem corroída pelo celofane da radicalização. Sai por baixo.

    Zambelli e Kicis

    As deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis também tiveram suas imagens vestidas com o manto da radicalização. Terão estofo para aguentar o tranco da política parlamentar nos próximos tempos? A conferir.

    O bem e o mal

    Os sofismas subiram o patamar da banalização nos vãos da política. Todos conhecem a expressão popular: nós somos o bem. O mal são os outros. Recordo, a propósito, a pergunta feita por Carl Jung a um rei africano sobre a diferença entre o bem e o mal. Às gargalhadas, o soba respondeu: “Quando roubo as mulheres de meu inimigo, isso é bom. Quando me rouba ele as minhas, isso é mau.” Recordo, ainda, a questão exposta por Alexander von Humboldt a índios da Amazônia para não comerem os colegas. Os índios responderam: “O senhor tem razão. Não podemos compreender que mal há nisso, pois os homens que comemos não são nossos parentes.” Esse duplo padrão ético, apontado pelo magistral intérprete do ethos nacional, o embaixador Meira Penna, continua a guiar os governantes.

    Promessas, promessas

    Em 64 A.C., Cícero, o mais eloquente advogado do ciclo de César, guiou-se por um manual de representação, produzido por seu irmão Quintus Tullius, para vencer a campanha ao Consulado de Roma contra Catilina. O roteiro sugeria modos de se apresentar e falar. Coisas assim: “Seja pródigo em promessas, os homens preferem uma falsa promessa a uma recusa seca.”

    Outra promessa?

    Mercadante, escolhido para presidir o BNDES, ex-coordenador dos programas do governo da transição, avisou: serão 35 ministérios. Um acréscimo e tanto dos 20 e poucos do desgoverno Bolsonaro. Lula, por sua, ao ser diplomado para seu 3º mandato, prometeu resgatar o país da miséria em que teria sido colocado. Mais uma promessa? Fará um governo plural? Ou um Ministério recheado de petistas, dando de costas à frente partidária que o elegeu?

    A arte da representação

    Entre nós, a arte da representação também tem sido bastante cultivada. Jânio Quadros dava ênfase à semântica por meio de estética escatológica: olhos esbugalhados, cabelos compridos, barba por fazer, jeito desleixado, caspa sobre os ombros, sanduíches de mortadela e bananas nos bolsos, que comia nos palanques, depois de anunciar para a massa, com ar cansado: “Político brasileiro não se dá ao respeito. Eu, não, desde as 6 horas da manhã estou caminhando pela Vila Maria e não comi nada. Então, com licença.” E devorava a fruta, sob os aplausos da multidão. Não tinha nenhuma fome. O ator histriônico havia se refestelado com uma feijoada, tomado um pileque, dormido na casa de um cabo eleitoral e acordado quase na hora do comício.

    Aparência de dândi

    Não causa surpresa o fato de que nossos políticos continuam exímios na arte de representar. O que causa reação negativa é a esquisitice de parlamentares cuja aparência estrambótica chega a agredir o cargo que ocupam. Em 1949, o deputado Barreto Pinto (PTB) – eleito pelo Rio, na época Distrito Federal –, fotografado de fraque e cueca samba-canção, foi cassado por falta de decoro. Idos tempos. Causa estranheza, hoje, a apropriação exagerada do instrumental das artes cênicas pelo ator político. Tal invasão os leva a substituir literalmente os teatros pelos corredores da Câmara e do Senado, a confirmar a previsão do especialista Roger Ailes, contratado por Nixon em 1968 para produzir seus debates na TV: “Os políticos terão de ser, um dia, animais de circo.” Menos dândis, que têm o prazer de amedrontar, causar surpresas, menos estrambóticos. É o desejo da sociedade.

    Aparecer a qualquer custo

    A tendência a disseminar a palhaçada pela seara política é mais que previsível diante de fenômenos que carimbam a vida parlamentar: escândalos envolvendo deputados e senadores, gestos e atitudes aéticos, velhas e novas formas de patrimonialismo, descrença geral na classe política. Ademais, o princípio que inspira a índole de grande fatia da representação é aparecer a qualquer custo. No Estado espetáculo, a visibilidade é chave mestra da competição. Há um lado da moeda que parece escapar ao crivo da classe que se esforça para demonstrar as lições de Stanislavski (1863-1938), Brecht (1898-1956) e Lee Strasberg (1901-1982), os três grandes mestres da arte dramática.

    Menos circo

    Teremos menos circo na próxima legislatura? Bom conselho aos apaixonados pelas luzes da TV pode ser o do general De Gaulle, que sempre procurou preservar a liturgia do poder: “Os maiores medem cuidadosamente suas intervenções. E fazem delas uma arte.” Menos plumas, lantejoulas, penachos, sungas, espadas, vestes de Tarzan, penduricalhos e estilos bombásticos. Mais substância, foco, ações concretas, atitudes firmes e corajosas. Menos circo e mais Parlamento.

    O neocoronelismo

    No Brasil, o passado é sempre revisitado. E com direito a reviver seus hábitos, mesmo os pérfidos. É o caso do coronelismo do ciclo agrícola, que castigava o livre exercício dos direitos políticos. Os velhos coronéis da Primeira República (1889-1930) consideravam os eleitores como súditos, não como cidadãos. Criavam feudos dentro do Estado. A autoridade constituída esbarrava na porteira das fazendas. Agora, neste ciclo conturbado, às vésperas de um novo governo a se instalar, o país se defronta com milícias. O império coronelista do princípio do século passado finca raízes no roçado do Rio de Janeiro.

    Quadrilhas

    A denúncia é de que comunidades do terceiro maior colégio eleitoral do país têm sido dominadas por milícias, quadrilhas comandadas por policiais que ameaçam pessoas que não elegeram seus candidatos. Com o bolsonarismo inconformado, é previsível o aumento das ações milicianas.

    Reformar a administração?

    Só se for com regime de engorda. Ao bater de frente no modelo de gestão capenga que domina a administração pública federal, Lula ajuda a entortá-lo com a ampliação exagerada de ministérios e secretarias especiais. O diagnóstico já é bastante conhecido: permanece o desequilíbrio entre a hiperatividade decisória e a eficiência de operação da burocracia governamental. A reforma na administração vai para as calendas.

    O compromisso

    Fernando Haddad, um perfil teórico, será mesmo ministro da Fazenda ou será o próprio Lula o comandante da economia? A crise de governabilidade, tão proclamada quando dela se faz uso para justificar a necessidade de se promover o ajuste fiscal e tributário, terá forte componente na esfera da execução das políticas públicas, na incapacidade de fazer valer as leis e no descumprimento das decisões mais altas. Afinal, o governo cumprirá o compromisso de fazer as reformas fiscal e tributária? Bernardo Appy vai para a Fazenda com Haddad. Você acredita, Luiz Carlos Hauly? Lula foi eleito pela terceira vez na esperança de levar a pedra dos ombros do povo até o cimo da montanha. Coisa que Sísifo não conseguiu.

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    LULA III E O SE…

    GAUDÊNCIO TORQUATO

    Não será fácil. Com esta ênfase, tento abrir um raciocínio sobre o governo Lula III. Não se trata de ser pessimista, porquanto adiciono ao final desta frase a platitude: o Brasil é maior do que a crise. Mas o pacote de desafios a ser enfrentado pelo maior líder popular do país mostra que só mesmo contando com a certeza de que “Deus é brasileiro”, ele realizará as principais metas de seus compromissos.

    Para começar, o desafio de acabar com a fome que atinge cerca de 30 milhões de pessoas. Ou, segundo sua recorrente promessa, garantir que todos tenham direito a três refeições por dia, o café da manhã, o almoço e a janta. 100, 150, 200 bilhões fora do teto de gastos? Haja Bolsa Família. Haja recursos. Que serão necessários para oferecer as mínimas condições de vida digna aos cidadãos.

    E como cumprir essa meta com a ideia de transformar uma economia claudicante em um sistema forte, capaz de puxar para cima os índices de crescimento? Dá para tapar os imensos buracos que afundam as áreas da habitação, do saneamento básico, da saúde, da educação, dos transportes, da segurança pública? Como suprir as grandes demandas da população, sem recorrer aos orçamentos superdimensionados, aos recursos extraordinários, à quebra da ordem fiscal?

    A par da frente interna, a administração Lula III elege a sustentabilidade do meio ambiente como prioridade com a qual o Brasil voltará a ganhar credibilidade e respeito das Nações. Essa será a senha que abrirá os recursos dos fundos voltados para preservação das riquezas naturais, a partir do bioma amazônico. Lula acaba de ganhar aplausos internacionais na COP27, no Egito, o que demandará urgentes esforços para tapar a buraqueira aberta pelo governo Bolsonaro no espaço devastado da floresta amazônica.

    Querem ver mais complicações? Olhem para a equação partidária, composta, na Câmara, por representantes da direita, que passarão a ocupar 50% das vagas e, no Senado, por 44% dos senadores. A formação oposicionista será bem diferente dos tempos do Lula I, em 2003, e do Lula II, em 2008. Luiz Inácio, é oportuno lembrar, ganhou muita experiência nos anos de mando e comando, do PT e do país. Saberá como tratar descontentes, indignados, fiéis aos princípios franciscanos (“é dando que se recebe”), mas o custo será altíssimo para seu governo. Parcela dos quadros será atraída pelo gosto do poder, sob o império do pragmatismo, mas não percamos a noção de que os tempos serão abrasadores nos vãos e desvãos das casas congressuais.

    O debate será acalorado. Desta feita, os fogueteiros terão aplausos das galerias ou, se quiserem, das ruas. O país está rachado ao meio, levando-se em consideração o fato de que muitos votos foram dados a Lula não por simpatia ou adesão ao seu ideário, mas por decisão do eleitor em querer dar um fim à era bolsonarista. Da mesma forma, muitos votos do capitão saíram de eleitores que não aceitam a volta de Luiz Inácio ao poder central.

    Portanto, teremos de conviver, nos tempos que se abrem, com aplausos e apupos, aglomerações e palavras de ordem, movimentos de rua. Por mais que os poderes da República tentem se ater às suas funções constitucionais, as tensões aumentarão a temperatura social.

    Lula promete um “governo além do PT” e com os ouvidos atentos ao clamor da sociedade organizada. Procurará expressar um discurso suprapartidário com a convicção de que as pressões serão a cada dia mais intensas. As entidades intermediárias, despertadas pela tuba de ressonância de grupos e categorias profissionais, subirão ao Planalto com mais frequência, com a noção de que o país caminha na direção de sua democracia participativa.

    Naveguemos, agora, na corrente do Se..

    Se o novo presidente conseguir ultrapassar a barreira dos 100 dias de governo, sem tumultos e barulhos, adensa o fio de esperança que impregna metade do país.

    Caso as margens comecem a sentir os efeitos da política social, com a extensão do cobertor de proteção, uma onda de otimismo nascerá na base da pirâmide, sinalizando o transporte de parcela da população para os cômodos da classe C. Coisa para ocorrer na metade do mandato.

    Se o Brasil escalar ao pódio da defesa do meio ambiente, as pedras do dominó, após caírem, voltarão a dar força aos jogadores, liderados por Luiz Inácio.

    Teremos no meio do mandato do presidente eleito, em 2024, um ciclo de forte disputa, a eleição para prefeitos e vereadores, base do edifício político. As cartas serão realinhadas. Ali deverá ser construída a pista para uma nova decolagem do avião presidencial, prevista para ocorrer em 2026. O futuro a Deus pertence, diz a matreirice política. Nada disso, o futuro aos governantes pertence.

    Dedico este penúltimo Se aos pilotos que acabam de subir aos ares. Saindo das tempestades, uma, duas ou mais borrascas, até divisarem os horizontes do amanhã, conseguirão dar sobrevida a seus percursos políticos. A recíproca é verdadeira.

    Seja qual for a vertente vencedora, estaremos fechando as portas de 1964, com a aposentadoria de Bolsonaro e Lula.  

    O último Se vai para um Senhor que sempre nos visita, nem sempre acompanhado de anjos: o Imponderável. Nesse caso, S.D.S. (Só Deus Sabe).