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Comer com arte no Le Train Bleu, em Paris

por Claudio Schapochnik

Tomar o café da manhã, almoçar, fazer a happy hour ou jantar num lugar único e, ao mesmo tempo, que transporta o cliente, por meio da arquitetura e arte, à criativa e dinâmica época da Belle Époque em Paris é uma experiência prá lá de fascinante. O endereço surpreende: é a charmosa Gare de Lyon — estação ferroviária parisiense de onde partem/chegam trens do Oeste, Sul e Sudoeste da França. Lá que fica o icônico restaurante Le Train Bleu (trem azul, em português), que pratica uma culinária de bistrô super clássica.

Aberto para a Exposição Universal de 1900, a casa foi quase demolida na década de 1960. O salvador da destruição chama-se André Malraux, nome do então ministro francês da Cultura. Por causa da pandemia de Covid-19, o restaurante que funciona diariamente está fechado. Mas é uma ótima dica para ir quando o coronavírus for vencido — que isso seja breve.

No alto vista parcial to teto do restaurante e um dos lustres, que pesa uma tonelada cada (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!) e, acima, a Cidade Luz (foto Walkerssk/Pixabay)
A logomarca da casa parisiense (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)
Vista geral do salão do Le Train Bleu (foto reprodução/site)

Fui uma única vez ao Le Train Bleu, em 2014. Na época trabalhava num jornal voltado aos profissionais de turismo, e o editor do veículo aceitou o convite para uma viagem à Borgonha. A iniciativa foi da Agência de Desenvolvimento Turístico da França (Atout France) e de parceiros, como a Air France e o turismo oficial da região francesa. Ele me escolheu para cobri-la e assim participei com outros colegas do grupo liderado pelo então diretor da Atout France para Américas, Jean-Philippe Pérol.

Apaixonado pelo Brasil e vivendo por aqui há muito tempo, Pérol trabalhou por quase três décadas na Atout France e mais outros anos em empresas francesas do setor turístico no Brasil. Ele domina como pouquíssimos no nosso País o tema do turismo francês.

O ex-ministro da Cultura da França, André Malraux (foto internet)
O prédio da Gare de Lyon, em Paris (foto reprodução/SNCF)

Na viagem à Borgonha, onde tive o prazer e a experiência inesquecível de comer em vários restaurantes estrelados no Michelin, “degustando” no total mais de 20 estrelas do famoso guia gastronômico, o grupo de jornalistas pegou o trem para a capital da região, Dijon — a cerca de 300 quilômetros de Paris — na Gare de Lyon.

Para esperar a chegada do trem, Pérol teve a ótima sacada de levar o grupo ao Le Train Bleu. Lá não fizemos nenhuma refeição. Portanto não tenho como falar sobre os pratos da casa, gerida pela famosa família sinônimo de alta gastronomia francesa, os Rostang, e tendo como chef o francês Samir Balia. Mas eu “babei” mesmo assim. O lugar é muito, mas muito lindo.

Para falar sobre o restaurante entrevistei, via email, a diretora para America do Sul da Atout France desde 2017, Caroline Putnoki, que fica baseada na capital paulista. Ela também faz parte do seleto grupo de pessoas que domina como pouquíssimos, aqui no Brasil, o turismo da França. Conheci ela talvez pouco depois de sua chegada em terras brasileiras, há dez anos. Foi num evento sobre queijos franceses na residência oficial do Consulado Geral da França em São Paulo. Na época Caroline era diretora da empresa brasileira de marketing Cap Amazon, representante por aqui de várias marcas de turismo, alimentos e vinícolas, da qual é fundadora.

A diretora para América do Sul da Atout France, Caroline Putnoki (foto divulgação)

Nascida na Guiana Francesa, Caroline é graduada em marketing de destino em Bordeaux e Angers, na França. Antes de vir para o Brasil, ela viveu 17 anos no Canadá. Lá que a profissional começou sua careira no turismo trabalhando no grupo turístico Transat e dirigindo a Atout France.

Simpática, executiva bem-sucedida e criativa, apaixonada pela gastronomia francesa (preparar e comer) e pelas redes sociais, casada com Jean-Philippe Pérol e, juntos, são pais de uma linda menina, Caroline discorre abaixo sobre vários aspectos do Le Train Bleu. “É um testemunho incrível da historia de Paris que qualquer pessoa apaixonada por cozinha e história pode experimentar”, assegura. Ela conta ainda o motivo pelo qual o restaurante está presente com carinho na sua vida e na de seu marido. Acompanhe.

A entrada do Le Train Bleu (foto reprodução/site)
O casal Jean-Philippe Pérol e Caroline Putnoki (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)

QUE GOSTOSO! — Por que este é um restaurante icônico de Paris?
Caroline Putnoki — O Le Train Bleu é icônico porque é um símbolo da Belle Époque. Abriu para a Exposição Universal de 1900 na estação de trem da famosa companhia ferroviária Paris Lyon Méditerranée (PLM). Depois de reunir toda a alta sociedade política e artística da França, começou a cair, até que em 1966 foi salvo da demolição pelo então ministro da Cultura francês, André Malraux (1901-1976), e voltou a ser icônico.

QUE GOSTOSO! — O restaurante fica dentro da Gare de Lyon. De lá partem trens para qual ou quais regiões da França?
Caroline — Sim, fica em cima da estação de trem. Daí que o primeiro nome era “Buffet de la Gare de Lyon” até 1963 quando foi rebatizado “Le Train Bleu“. Desta estação partem os trens rumo a Lyon, Marseille e Riviera Francesa (Côte d´Azur).

No salão do Le Train Bleu adorno em honra ao ex-presidente da França, Émile François Loubet (1838-1929), que inaugurou a Exposição Mundial de 1900 em Paris (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)
Sugestão de café da manhã do restaurante (foto reprodução/site)
Adornos e uma das pinturas no teto do estabelecimento (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)

QUE GOSTOSO! — É comum em Paris e na França as estações de trem terem restaurantes top, como o Le Train Bleu?
Caroline — Não. Só este restaurante deste nível nas estações de trem francesas! É único!

QUE GOSTOSO! — A decoração do restaurante é bastante particular. Qual ou quais detalhes você destaca para observar?
Caroline — As pinturas foram feitas por pintores razoavelmente conhecidos e sobre tudo. As pinturas representam as cidades onde passam os trens entre Paris e o Mediterrâneo como, por exemplo, o antigo porto de Marseille, o Mont Blanc nos Alpes, o teatro de Orange na Provence e o Principado de Mônaco também.

Prato de peixe e frutos do mar (foto reprodução/Facebook)
Outra luminária, desta vez de parede
Prato de entrada com presunto, framboesa e melão (foto reprodução/Facebook)

QUE GOSTOSO! — Qual é um bom lugar pra se sentar por lá?
Caroline — Acho que todos!

QUE GOSTOSO! — Em relação ao cardápio, qual é o tipo de culinária que é feita por lá?
Caroline — É uma culinária de bistrô super clássica! É uma brasserie de luxo, o luxo sendo ter uma refeição num lugar ligado a muita história e cultura.

Pintura de cena urbana no teto (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)
Prato de salmão com acompanhamento (foto reprodução/Facebook)
Sobremesa do Le Train Bleu: éclair (bomba) de chocolate (foto reprodução/Facebook)
Brasão em cima de passagem entre os ambientes do restaurante (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)

QUE GOSTOSO! — Quais os pratos que você e o Pérol já comeram por lá?
Caroline — Sendo uma referência clássica de cozinha de bistrô, os pratos são bem típicos dos bistrôs parisienses ou de Lyon. Mas o visitante pode também provar especialidades das regiões atravessadas pelos trens saindo da estação: por exemplo, os “Escargots de Bourgogne” ou o “Saucisson Brioché”, de Lyon.

Sugestão de petiscos e vinho na happy hour do Le Train Bleu (foto reprodução/site)
Movimentação no hall e nas plataformas da Gare de Lyon, em foto pré-pandemia (foto Claudio Schapochnik/Que Gostoso!)
Salada do menu do restaurante (foto reprodução/Facebook)

QUE GOSTOSO! — Almoçar ou jantar no Le Train Bleu é um bom programa? Por quê?
Caroline — É uma experiência única no sentido que o lugar faz parte do Patrimônio Histórico francês. É um dos lugares mais preservados da Belle Époque e sua fama vem dos socialites da época que frequentavam o lugar. É um testemunho incrível da historia de Paris que qualquer pessoa apaixonada por cozinha e história pode experimentar.
Para mim, é um lugar importante porque foi no Le Train Bleu que começou a primeira viagem que acompanhei no turismo, com um grupo indo para Alsácia. O grupo se encontrou neste lugar incrível antes de pegar o trem para Estrasburgo. Para Jean-Philippe, foi o lugar onde comemorou o fim de provas de estudos com amigos queridos e isso marcou ele para sempre!CLAUDIOSCHAPO