Over-turismo: As cidades pedem socorro!
O excesso de turistas prejudica cidades e atrações, afeta a vida dos moradores, e cria dificuldades até para o próprio visitante.
Por Fabio Steinberg
Como praga de gafanhotos, cidades de interesse turístico estão sendo invadidas. A ocupação predatória e descontrolada até ganhou nome: over-turismo.
Este fenômeno ocorre sempre que uma cidade atinge sua capacidade de máxima de visitantes. Passa então a conviver com trânsito humano, filas intermináveis nos pontos de interesse, e custo de vida alto, entre outros fatores. Com isto, torna-se nada hospitaleira para quem chega, e insuportável para quem nela mora. Um estudo da agência holandesa TravelBird apontou Barcelona (Espanha) com a maior vítima do over-turismo. Ela é seguida por Mumbai (India), Amsterdam (Holanda), Veneza (Italia) e Hanoi (Vietnam).
Ninguém quer eliminar o turismo, mas buscar o equilíbrio. Ou seja, evitar que o excesso de visitantes afete a preservação das cidades e a qualidade de vida dos moradores.
Turismo em expansão
O turismo mundial dobrou em 15 anos para 1.2 bilhão de pessoas por ano. Seduzidos pelos gastos dos visitantes, destinos como Barcelona, Veneza e Reykjavík, esqueceram de se equipar para as consequências.
No Brasil, há bolsões isolados de over-turismo. É o caso de Ilhabela, no litoral paulista. A cidade não aguenta mais o caos que multiplica a população de 40 mil por quatro a cada feriado. Falta d’água, blecautes, e engarrafamentos colossais levaram a cidade a estuda medidas restritivas, como rodízio de veículos.
Mas há casos de sucesso. Como Bonito, no Mato Grosso do Sul. Sem se deixar seduzir pelo canto da sereia, a cidade estabeleceu cotas para as principais atrações e encantos naturais. Já o arquipélago de Fernando de Noronha combinou taxas, restrições e custo de vida extorsivo, e que na prática inviabiliza a visitação em massa.
Soluções para over-turismo
Será o over-turismo insolúvel, ou há fórmulas de promover o turismo sustentável? A Skift, empresa de inteligência da indústria de viagens, indicou cinco tendências.
A primeira é limitar as opções de transporte. As companhias aéreas low-cost e os meganavios promovem hoje inundações humanas instantâneas em cidades turísticas. Por exemplo, o número de 100 mil cruzeiristas por ano durante os jogos olímpicos de Barcelona deve saltar para 2.7 milhões em 2016. É para fugir de situações análogas que Veneza decidiu proibir que cruzeiros atraquem no seu porto central.
A segunda tendência para evitar o over-turismo é tornar a cidade mais cara. Além do barateamento dos transportes de massa, serviços de “homesharing” como o Airbnb reduziram os custos de hospedagem. Países como a Islândia – hoje com mais turistas que habitantes – incentivam acomodações de luxo, para trocar maior número de turistas pelos mais endinheirados. As cidades estudam ainda aumentar a taxação de hotéis, locação de apartamentos e cruzeiros em alta estação. Pontos de elevada visitação como as ilhas Galápagos e Machu Picchu já adota a fórmula há décadas.
A Skift também identificou o uso crescente do marketing e educação para administrar os efeitos negativos do over-turismo. New York desenvolveu uma campanha que canaliza hordas excessivas de visitantes de Manhattan para o Brooklin. Outro desafio das cidades é melhorar o próprio viajante, que nem sempre se comporta e respeita lugares e tradições.
Desunião crônica
Está em alta também maior colaboração entre os interessados em contornar o over-turismo. O melhor exemplo é o Brasil, onde uma crônica desunião da indústria faz as “tribos” cuidarem apenas dos próprios territórios. Falta uma organização única para a gestão integrada dos destinos.
A quinta, e mais óbvia das tendências, é proteger as áreas com grande trânsito de turistas. Assim, Barcelona criou regras para os tours, como limitar o tempo de permanência de grupos para reduzir o congestionamento em áreas populares.
Criatura e criador
O turismo sempre determinou o grau de desenvolvimento das cidades. Hoje ocorre o contrário. Lugares como Disney World ou hotéis em Las Vegas foram construídos para receber turistas. Depois, passaram a abrigar eventos, e com a evolução se tornaram centros residenciais. Agora, ironicamente os moradores não querem ser incomodados por turistas. É o clássico caso da criatura que se volta contra o criador.