Onde foi parar o turismo perdido?
No deserto de ideias e desunião do Turismo, iniciativas como o Fórum Panrotas se destacam como oásis de reflexão e esperança.
Por, Fabio Steinberg
Nas últimas décadas o Brasil comeu poeira na estrada mundial em pelo menos uma categoria. Tornou-se campeão em “Turismo Perdido”. Virou lanterninha enquanto outros destinos internacionais, alguns até menos atrativos e com reduzido potencial, ganharam a dianteira.
O país precisava ser resgatado com urgência desta situação. Infelizmente não é o que se observa. Sem sinal de uma liderança capaz de viabilizar a união de toda esta cadeia econômica, é cada um por si.
Cada um por si
Os diversos segmentos – hotelaria, aviação, agências, cruzeiros, provedores de soluções, serviços e produtos, entre tantos outros – cuidam do próprio umbigo. Lutam pelo mínimo, que são os seus interesses imediatos e diretos.
Curiosamente, o que não falta são associações de categoria no turismo brasileiro. Elas se multiplicam pelo país com nomes que lembram sopa de letrinhas. Algumas sofrem até de duplicidade: nasceram para representar a mesma coisa. Só que na prática nenhuma tem legitimidade para responder pela indústria como um todo.
Surgem assim distorções e disfuncionalidades. Por exemplo, para garantir a sobrevivência financeira, a maioria destas organizações cria eventos com o único propósito de gerar caixa. Esta diversidade de feiras e congressos gera mais que redundância. Estabelece uma concorrência predatória para atrair os mesmos compradores visando realizar negócios em um mercado já escasso de recursos.
Em busca da luz
Como organismo enfraquecido, o turismo perdido brasileiro se torna presa fácil de predadores, oportunistas e falsos profetas. Lembrando mariposas em busca frenética pela luz, muitos empresários e líderes setoriais equivocados se voltam para as esferas governamentais. Alguns, mais idealistas, buscam orientação, mas de quem tem pouco a ensinar. Outros, mais pragmáticos, correm atrás de verbas oficiais, mas que andam cada vez mais escassas.
O modelo pode até ter funcionado no passado. Mas hoje perdeu eficácia diante da própria dinâmica de negócios, somada a novas tecnologias e comportamento mais seletivo dos consumidores.
Assim, o turismo perdido ocorre em dois sentidos. Primeiro, perdido pelo tempo jogado no lixo, como cachorro que só correu atrás do rabo. Segundo, perdido por não saber onde está, e muito menos para onde ir.
Farol na escuridão
Neste cenário confuso, destaca-se uma instituição que há 16 anos funciona como uma espécie de farol, guiando na escuridão o caminho de soluções e tendências. Trata-se do Fórum Panrotas. A cada ano uma impressionante manobra política consegue reunir todos matizes do Turismo. Mesmo os mais divergentes entre si.
Pessoalmente, sinto-me à vontade para falar deste projeto realizado com êxito por Guilermo Alcorta e sua equipe. Como jornalista nunca colaborei ou apareci em qualquer foto publicada no jornal do grupo – nem mesmo na condição de “papagaio de pirata”.
O Fórum Panrotas é um feliz ponto fora da curva no turismo brasileiro. Ocorre todo ano, durante dois dias, em São Paulo. Nele, desarmados de preconceitos ou agendas ocultas, todos os segmentos podem refletir sobre a indústria e como se preparar para as novas exigências do mercado.
Em 2018 não foi diferente. Mais de 1300 participantes compartilharam em sessões bem organizadas e de qualidade informações preciosas e precisas, tanto de especialistas como profissionais selecionados.
Pra que Governo?
Este ano chamou a atenção a ausência quase completa do Governo. A verdade é que sem ter muito o que agregar, não fez qualquer falta. Pelo contrário: a omissão serviu para demonstrar que a verdadeira força motriz da indústria do turismo é a iniciativa privada.
Aliás, uma pergunta: assim como crianças crescidas deixam para trás a calça curta, não seria hora do Turismo abandonar o terno e gravata nos eventos? Afinal, o que no passado nasceu como deferência às autoridades presentes, hoje perdeu o sentido.