Miami, Capital do Brasil?
Todo anos quase 600 mil brasileiros viajam para Miami, fora os 300 mil que lá vivem
Por Fabio Steinberg
Todos os anos, centenas de milhares de brasileiros escolhem passar as férias no exterior. Quantos? Ninguém neste país está capacitado a informar. É que Estatística por aqui ou inexiste, ou então não é confiável. Nenhuma cidade representa melhor esta revoada anual de brasileiros que Miami, nos Estados Unidos.
Dados confiáveis
Ao contrário do Brasil, a cidade conhece tudo sobre os seus visitantes internacionais. Sabe que quase 600 mil brasileiros lá estiveram em 2016. E que ocuparam o terceiro lugar entre os 15.9 milhões de turistas na cidade, mais da metade internacionais, que no total gastaram cerca de U$ 26 bilhões. Sem falar dos brasileiros que moram em Miami. Há quem estime, somados legais e ilegais, uns 300 mil. E nem vamos falar aqui de Orlando, que é uma novela à parte.
A cidade norte-americana com forte sotaque latino é o sonho de consumo daquilo que o brasileiro gostaria de ter em casa. Ou seja, lazer de qualidade combinado com compras a bons preços em ambiente seguro, organizado e limpo.
Brasil exporta turistas
Triste constatar que o Brasil conseguiu inverter os sinais tradicionais do Turismo. Hoje se destaca como um dos maiores exportadores de viajantes para o mundo.
Por exemplo, os cruzeiros marítimos definham no país. Em apenas seis anos, 55% dos passageiros de cruzeiros no Brasil simplesmente evaporaram. Os 805 mil viajantes de 2011 que viajaram em 20 navios encolheram para 358 mil em 2017 de apenas sete navios. Onde foram parar estes passageiros? Cerca de 100 mil deles em cruzeiros fora do Brasil, a maioria em Miami, onde embarcam para visitar o Caribe.
De quem é a culpa?
A mesma situação se repete em outros segmentos do turismo brasileiro. Quem paga o pato é a indústria e a economia do país – a que há, e a que poderia existir. Não faltam belezas naturais, gastronomia e hospitalidade no país.
Tampouco o problema está localizado na hotelaria, aviação, transportes, serviços ou em qualquer elo da cadeia de valor do turismo. Todos estão loucos para se desenvolver e mostrar sua competência. Só que no atual contexto só conseguem agir de forma individual, na tentativa de salvar pelo menos o próprio umbigo.
A dúvida do marciano
Completa o quadro desolador do turismo brasileiro sucessivos governos sem vontade política, onde inexiste planejamento e predomina a desintegração. Enquanto isto, Miami comemora a chegada aos borbotões dos turistas brasileiros, que viram ali a sua melhor opção. Um marciano que chegasse à cidade e ouvisse tanta gente falando português poderia pensar que lá é a Capital do Brasil.