Hospitalidade: mudança e evolução
Aviões, hotéis e navios sempre souberam se adaptar aos novos tempos, mas não podem perder o foco na hospitalidade.
Por, Fabio Steinberg
Dos anos 50 para cá, a história da hospitalidade é feita de mudanças e evolução. Aviões, hotéis e navios se adaptaram aos tempos e novo perfil dos clientes. Foi graças a esta radical transformação que viagens e turismo deixou de ser atividade voltada para poucos para se tornar uma das mais prósperas indústrias da economia mundial.
O MUNDO NOS ANOS 50
Década de 50. O mundo respira, aliviado, o fim da 2ª Guerra Mundial. No entanto, as pessoas mal percebem a aproximação de duas novas guerras, menos convencionais. A primeira será comportamental. A outra, tecnológica. Ambas terão o poder de alterar a maneira como os homens vivem, e se relacionam entre si e com o planeta.
É nesta época que a televisão chega ao Brasil, a ciência comemora a descoberta do DNA, a vacina da poliomielite, e o lançamento pelos russos do satélite Sputnik. Na mesma década, o Brasil perde a Copa do Mundo para o Uruguai, para ganhá-la oito anos depois.
O rock and roll pega fogo, a bossa nova dá os primeiros passos. Gene Kelly dança no filme “Cantando na Chuva”, Fidel Castro lidera a revolução cubana e a boneca Barbie é inventada.
O mundo, agora em paz, permite que a economia se desenvolva e democratize o turismo, as viagens e a indústria de hospitalidade. É neste cenário que as primeiras companhias aéreas surgem. Nos anos seguintes voar deixará de ser coisa de elite para virar transporte de massa.
AVIAÇÃO COMERCIAL
As primeiras aeronaves, apesar de barulhentos e instáveis, eram confortáveis e luxuosas. Pilotos e atendentes de bordo eram privilegiados e invejados. Pegar avião era ato de coragem, pois segurança de voo ainda não era visto como prioridade. Mas nem mesmo a frequência de acidentes, inúmeras escalas, e o imenso tempo de voo afastaram passageiros. A aviação comercial, enfim, decolou.
“Foi provavelmente a época mais glamorosa, talvez só comparável à era dos dirigíveis”, avalia Adalberto Febeliano, profissional com 25 anos de experiência em aviação e Professor de Economia do Transporte Aéreo.
Para compensar os preços absurdos, a bordo talheres e pratos de alta qualidade e refeições caprichadas faziam parte do glamour. Com álcool liberado, era comum passageiros desembarcarem bêbados. Fumar em voo não só era permitido, como considerado charmoso. Banheiros espaçosos e áreas de convivência substituíam o entretenimento de bordo.
As companhias aéreas passaram a encomendar aeronaves desenhadas para a aviação civil, e não mais usar aviões militares modificados. Primeiro vieram os movidos a hélice. A seguir, os turboélices. Sempre que possível os quadrimotores para garantir se um ou mais deixasse de funcionar no ar.
Novas tecnologias viabilizaram jatos com maior autonomia. Nasce em 1958 o 707, primeiro jato de passageiros de sucesso, e que transformou a Boeing na maior fabricante de aviões do mundo. A fuselagem larga (wide body) permitiu o transporte de mais passageiros e carga. A redução de tarifas popularizou o transporte aéreo.
EVOLUÇÃO DOS HOTÉIS
Enquanto isto, a evolução dos hotéis a partir dos anos 50 não é menos fascinante. Com mais gente comprando carros, aumentaram as viagens tanto a trabalho e lazer. Esta nova clientela levou a repensar o modelo de negócios hoteleiro, até então com foco em cassinos.
Este processo também ocorreu no Brasil, mas de forma um pouco diferente. “No pós-guerra, os projetos arquitetônicos trocaram a influência europeia clássica pelo modernismo norte-americano, com linhas limpas, fachadas em concreto, vidro e aço, edifícios altos”, explica Caio Calfat, respeitado consultor em hotelaria.
Com a presença crescente de famílias em viagem, os amenities se adaptaram ao novo hóspede. Surgem kits de costura, secadores de roupa retráteis nos banheiros, shampoos, entre outros agrados. A seguir vieram o minibar, máquinas de gelo e venda de mercadorias, room service e tevê a cores nos quartos.
O pagamento por cartão de crédito só se populariza nos anos 90. Logo depois o boom tecnológico viabiliza reservas pela internet nos sites dos hotéis. Finalmente, aparecem quartos com wi-fi, hoje item indispensável. Desde então, as mordomias se diversificaram, e a cada dia há novidades.
“A evolução da hotelaria proporcionou a segmentação, com a adoção de nova classificação em substituição às antigas estrelas”, explica Caio Calfat. Mas o essencial se mantém: boa cama, ducha, segurança, limpeza.
CRUZEIROS
Com os cruzeiros não foi diferente. De naves sofisticadas de alto luxo reservadas a poucos, como o Queen Elizabeth 2, o setor se democratizou. Hoje, embarcações de proporções gigantescas como o Harmony of the Seas conseguem embarcar mais de 6 mil passageiros por viagem.
A indústria de hospitalidade – em terra, ar ou mar – é um organismo vivo em contínua evolução. Como espelho, reflete hábitos, necessidades e interesses do cliente, cada vez mais globalizado e conectado. O desafio é entender e atender as exigências de um hóspede em mutação, e que detém o poder da decisão. Por isto, conquistar sua lealdade tornou-se vital.
Extrato de matéria publicada na revista Viagens S.A. Leia íntegra: