Uma bofetada em Itu O que parecia ser um Fórum sério sobre Turismo era um evento vazio de conteúdo, politiqueiro, e grosseiro com a cidade de Itu – Por Fabio Steinberg
A cena parecia piada de mau gosto. Ocorreu na sexta-feira, 1 de novembro, durante todo dia, a partir das 8h30. A cidade de Itu fervia a 36 graus do lado de fora. Dentro do luxuoso Novotel, na contramão do calor insuportável, havia 16 senhores engravatados em ternos escuros sentados diante do auditório. Durante quatro horas eles se revezaram em discursos, sem intervalos.
Para uma pessoa desavisada, um evento intitulado “Fórum Nacional do Turismo” poderia soar como coisa séria. Quem sabe, estava ali uma oportunidade para uma discussão tão vital para o futuro do setor. Ledo engano. Embora pretensiosos e solenes na forma, os discursos foram incapazes de disfarçar o vazio de seu conteúdo.
Desfile de obviedades
Desfilou-se um insuportável festival de obviedades. Como o Turismo é importante para alavancar a economia, produzir empregos, trazer progresso, gerar riqueza para o país. E tome mais blá blá blá. Mas soluções, planos, métricas, que interessa, bem, nisto ninguém falou a respeito. Ah, sim, o prato principal deste engana-que-eu-gosto verbal veio acompanhado de puxa-saquismo explícito às autoridades presentes. E, sempre que surgia uma brecha, cada palestrante dava um jeito de encaixar louvações a si próprio.
A plateia, que mal ocupava meio auditório, não conseguia disfarçar o tédio. Talvez para espantar o sono, era volta e meia convidada a bater palmas. Como se estivesse em um programa de auditório. Até porque a audiência era de pessoas sem maior expressividade para o Turismo. Havia ali poucos empresários ou profissionais atuantes no segmento. Certamente os mais ocupados estavam trabalhando ou fazendo algo melhor àquela hora do dia. A maioria, convocados e constrangidos, eram jovens estudantes secundaristas ou de cursos profissionalizantes, assim como servidores de municípios vizinhos. Isto sem falar em incautos que pensaram lá encontrar um encontro sério sobre o Turismo no Brasil.
Oportunismo
Esta tragédia travestida de evento mal disfarça o seu real propósito. Fica clara a sua função eleitoreira, em favor do deputado federal Herculano Passos. Ituano, é um legítimo representante do baixo clero em Brasília. Quando Prefeito da cidade, não deixou rastros nem lembranças de maiores realizações em prol do setor em Itu. Agora, tudo mudou. Ele se apresenta como salvador da pátria do assunto. Virou Presidente de uma FrenTur – sigla de Frente Parlamentar Mista de Defesa Turismo que ajudou a criar em 2015.
Usando o efêmero prestígio político derivado do cargo atual e da tal frente parlamentar que inventou, Passos conseguiu arrastar para o evento algumas autoridades. Estavam lá o Ministro e o Secretário Estadual do Turismo, um ex-Governador, além de presidentes de associações de classe de hotéis e desenvolvimento do turismo, entre estrelas de menor grandeza.
Gosto amargo
Todos – conferencistas, palestrantes, audiência – devem ter saído do local com um gosto amargo na boca. Afinal, foi uma perda de tempo generalizada. Basta dizer que este Fórum, além do palavrório insano da parte da manhã, sequer teve a programação da tarde impressa. O único folheto distribuído na entrada faz elogios rasgados ao trabalho desenvolvido por Herculano Passos pelo Turismo no Brasil. Ah, sim, houve também um coquetel às oito da noite. Foi uma espécie de prêmio de consolação para os sobreviventes do massacre verbal. Entre os quais, felizmente, não me incluí.
Ao contrário do que pregam seus organizadores, este Fórum prestou um tremendo desserviço ao cambaleante setor no país. Em sua quarta edição, ninguém conseguiu decifrar a que veio. E principalmente quem paga a conta.
Grosseria sem limites
Mas o pior desta história ficou para o final. Como mencionado, o evento ocorreu na cidade de Itu. Mas, acredite se quiser, o Prefeito da cidade não foi convidado! Isto mesmo! É algo tão grotesco como visitar a casa de alguém, comer e beber à vontade, e até usar a piscina, e sequer falar com o anfitrião. “Considero esta atitude, acima de tudo, um imenso desrespeito ao povo de Itu, que represento no cargo para o qual fui eleito democraticamente”, desabafa Guilherme Gazzola, Prefeito da cidade.