Chegou a hora de privatizar o turismo
Que o governo é péssimo administrador, todo mundo já sabe. Mas é no Turismo que ocorre um dos mais sérios estragos causados pela péssima gestão do Estado – tanto no âmbito federal, estadual ou municipal. Aprendizes de feiticeiro que nada entendem do ofício, políticos, amadores e prepostos se sucedem de forma quase sempre irresponsável em cargos estratégicos.
Na melhor hipótese nada fazem. Mas na maioria das vezes, ao buscar alguma luz sobre suas sombrias
administrações, promovem experiências catastróficas que só servem para desservir o setor. Ao juntarem incompetência com iniciativa prejudicam um segmento que teria tudo para alavancar a economia local e do país.
Governo é governo, e iniciativa privada é iniciativa privada. Quando um dos dois interfere na seara do outro dá errado. No Turismo, os governos deveriam se limitar a estabelecer políticas públicas, fiscalizar o uso adequado dos recursos públicos, e assegurar infraestrutura para a atividade.
No Brasil, falta coragem de transferir as erráticas operações do governo para o empresariado. Nem se fala no Ministério do Turismo, um desastre à parte (leia). Mas vamos além. Por exemplo, é preciso fechar as portas de empresas de turismo como SPTuris e Riotur, assim como seus caricatos clones espalhados por Estados e municípios. Da mesma forma, que tal enxugar secretarias de turismo que, além de acomodar escusos interesses políticos, tornaram-se elefantes inoperantes? O modelo oficial pode ter sido útil no passado, mas se obsoletou diante de novos desafios.
No que tange à gestão do Turismo brasileiro, até o setor privado, apesar da vocação natural para operar e empreender, precisa se reinventar com urgência. Neste sentido, o papel do Convention & Visitors Bureau (CVB), que merece respeito pelo papel pioneiro, deve ser reescrito. Como uma calça que se tornou apertada ao não acompanhar o crescimento da criança, é uma instituição que não evoluiu, e quase sempre mingua pela inanição.
Originalmente criados nas principais cidades do mundo para promover o turismo de negócios e atrair convenções e eventos profissionais para a localidade, os CVBs se tornaram vítimas do nome, que os impede de incorporar um escopo mais ambicioso. Por isto, estão sendo substituídos no mundo por uma nova organização. Trata-se da DMO – sigla de Destination Marketing Organization (Organização de Marketing de Destino).
Não é simples troca de nome. Além do formato operacional mais dinâmico, seu foco das atenções passa a ser o destino e a projeção global de sua imagem. As demais atividades do turismo gravitam em torno de sua órbita, e não o contrário. Com isto, uma injustiça histórica também é corrigida: a hotelaria deixa de ser praticamente o único contribuinte da organização, através do pagamento de taxas sobre as diárias (room tax).
Nada mais acertado. Pode ter sido cômodo até hoje usar os hotéis como fonte primária de financiamento. Mas a realidade é que os demais setores – bares e restaurantes, comércio, entretenimento, transportes, sem falar no próprio governo – também se beneficiam do turismo do destino. Por isto, o correto é todos pagarem para o funcionamento da DMO.
New York demonstra isto. Em 2014, dos 41 bilhões de dólares arrecadados pela cidade com o turismo, só 28,8% vieram de gastos em hotéis. A maior parte veio do comércio (22%), alimentação (20%), transporte (18%) e entretenimento (11%). Só de impostos cidade e Estado arrecadaram 5.5 bilhões de dólares.
A NYC & Company, que é o nome da DMO da cidade, conta com 2 mil associados, em um rico espectro que inclui de hotéis, restaurantes, museus, comércio, teatros, operadoras de turismo, até atrações. Estas instituições privadas garantem 61% do orçamento. Outra prova do acerto do modelo adotado por New York: 79% dos visitantes vieram a lazer. E mais: apesar de apenas 20% dos turistas em 2015 serem internacionais, responderam por 50% dos gastos.
O Brasil patina há décadas em ridículos 6 milhões de visitantes anuais. Chegou o momento de repensar o modelo. Com a palavra, empresariado e governo.