Politica
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Porandubas Políticas – Por Gaudêncio Torquato – 18/03/2020
Abro a coluna com Confúcio.
Governantes
Quando Confúcio visitou a montanha sagrada de Taishan, encontrou uma mulher cujos parentes haviam sido mortos por tigres. Perguntou:
– Por que não se muda daqui para um lugar onde haja mais governo?
– Porque os governantes são mais ferozes que os tigres.
Estado de pânico
O Brasil começa a adentrar o território do pânico. Pode até haver certa dose de exagero nas medidas tomadas por governantes. Pode até estar superdimensionada a extensão da crise deflagrada por esse Convid-19. Mas o fato é que o mundo todo se desdobra na análise e decisão sobre o que fazer para atenuar os efeitos da pandemia. A China está provando que medidas drásticas dão certo. Confinou toda a região de Wuhan, o epicentro do novo coronavírus. O pico passou. A situação por lá mostra declínio.
O dano psicológico?
Qual o efeito da epidemia sobre a psique dos humanos? O que o medo provoca? Que estados d’alma se desenvolvem a partir do pânico? Eis uma hercúlea tarefa para analistas – psicólogos, psiquiatras, cientistas sociais/sociólogos/antropólogos. Quebra-se algum elo na corrente da confiança, da autoestima, da imagem dos governantes? Recriam-se novas formas de poder?
Trilhões na economia
A Itália torna-se centro da pandemia no mundo. Cerca de 400 mortes por dia. Cidades fechadas. Ruas desertas. Índices alarmantes. Os EUA baixam juros. O FED despeja 700 bilhões de dólares, pequena parte dos trilhões de dólares que somam as perdas em bolsas e em negócios prejudicados. Exportações e importações paralisadas. Trabalhadores faltam ao trabalho. Mas passam a realizar tarefas administrativas em suas casas.
Epílogo
“Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto“. (Jorge Luis Borges)
O mundo é outro
O mundo hoje é bem diferente do planeta que tínhamos até um mês atrás. Costumes tradicionais são mudados. Eventos sociais, praças, parques, cinemas, teatros, escolas públicas e privadas integram a cadeia de fechamento. Perdas no organograma escolar. Até crianças morrendo. Isso mesmo, crianças. Futuro de milhões passa a ser reprojetado. Viagens marcadas são suspensas. Cruzeiros marítimos procuram portos para atracar. Mais parecem prisões em alto mar. Governantes e seus quadros são contaminados. A escala de contaminação aritmética vira escala geométrica, mais densa. A gigantesca tribo global vai se tornando um arquipélago de centenas de ilhas.
Uma nova ordem mundial
O fato é que se desenha um novo mapa-múndi, cujos traços certamente serão registrados pela história. Mesmo que, com o tempo, se desenvolva forte esquecimento dos efeitos da pandemia, marcas profundas serão deixadas em cada território. Entre esses traços, podem ser apontadas mudanças no eixo geopolítico, com redefinição de relações entre países, particularmente no campo da migração, exportação/importação, bens culturais, sob a égide de maiores controles. Advirá um surto nacionalista, que já embasa a política em algumas Nações, como os EUA e o Reino Unido. Os sistemas de saúde, com ênfase na política de prevenção, deverão receber reforço. A competitividade animará a indústria farmacêutica. Idas e vindas de pessoas e grupos entre países receberão maior atenção. Os aparatos do terrorismo poderão se utilizar dos ciclos endêmicos para desenvolver ações terroristas. A globalização e o que representa passarão por intenso debate. Uma barreira – ideológico/cultural/ideias/pensamento- provocará danos sobre o concerto das Nações.
Trump nas cordas
Depois de ter subdimensionado o efeito da pandemia, o mais poderoso líder do mundo ocidental se corrige ante as evidências e convoca o mundo político dos EUA para se dar as mãos nas estratégias de combate ao Covid-19. De imediato, saca do Tesouro 50 bilhões de dólares para as primeiras providências. Ao fundo, sua reeleição no pleito de novembro. A depender de como enfrentará a questão, poderá voltar à Casa Branca ou aos seus resorts. Para piorar, membros de sua equipe e de políticos republicanos são contaminados por… quem? Ora. Pela comitiva do seu amigo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. (Deve estar furioso… que amigo da onça…). P.S. Ou a comitiva foi infectada por americanos?
Bolsonaro e seus cavalos de Tróia
A equipe de Jair Bolsonaro, que já teria dito “I love you, Trump“, teria levado a pandemia para a Casa Branca? A confraternização foi plena naquele belo resort do bilionário presidente dos EUA. Um “presente de grego” de Bolsonaro para Trump? Lembremos a Ilíada de Homero. O cavalo de Tróia, feito de madeira e oco por dentro, ideia do soldado grego Odisseu, levava centenas de soldados em seu interior. Os troianos aceitaram o presente e o levaram para dentro das muralhas de Tróia. Enquanto os troianos se refestelavam de bebida comemorando a rendição do inimigo, os gregos saíram do cavalo e atacaram a cidade. Tróia foi totalmente destruída. Bolsonaro e seus “gregos” teriam deixado membros da equipe do amigo Trump carimbados com a pandemia que assombra o mundo? Quem diria, hein?
Mas o pior aconteceu
Quem com ferro fere, com ferro será ferido. O ditado baixou como praga pelo Planalto de Brasília. Pois não é que o Covid-19 também entrou no corpo de parte das equipes que acompanharam Bolsonaro aos EUA? O secretário da comunicação, Fábio Wajngarten, foi o primeiro. Até um senador, Nelsinho Trad (PSD-MS) também foi contaminado. E o que diz o presidente? Exageros da mídia, fantasia, histeria. Pressionado, chegou a aconselhar a desmobilização de um movimento em seu favor, domingo, 15.
Conselhos às favas
E o que aconteceu? O presidente manda às favas os conselhos que recebeu para se precaver e vai às ruas de Brasília confraternizar e cumprimentar o povo. Afinal, ele passará por nova bateria de testes. “Eu sou do povo”, justifica. E se for contaminado, ele será o responsável. Claro, cada qual seu bornal. E mandou bala nos presidentes da Câmara e do Senado. “Agora, prezado Davi Alcolumbre, prezado Rodrigo Maia, querem sair às ruas? Saiam às ruas e vejam como vocês são recebidos”. Bolsonaro está na contramão do bom senso. Até quando poderá defender essa postura de enfrentamento?
A querela política
O que há, no fundo, é uma querela política. O presidente quer que as casas parlamentares, Câmara e Senado, aprovem in totum os projetos e medidas que o Executivo encaminha. E joga na cesta do lixo o chamado “presidencialismo de coalizão”. O Parlamento, de troco, derruba seus vetos. O general Augusto Heleno chegou a chamar os parlamentares de “chantagistas”. E assim as tensões sobem ao pico. Onde isso vai dar? Há quem comece a falar em impeachment. Por ora, hipótese completamente afastada. Mas o distanciamento entre o presidente e o conjunto parlamentar tende a se agravar. Paulo Guedes já não é tão aclamado. Parece cansado.
Coronavírus, a balança
Nesse ponto, volta ao tabuleiro do jogo a pandemia do coronavírus. Se for bem administrada, sob o comando do competente ministro da Saúde, ex-deputado Luiz Henrique Mandetta, o Executivo recuperará seus vetores de força. Dizem, porém, que Bolsonaro está incomodado com a boa imagem do ministro da Saúde. Se o governo for bem sucedido no combate à pandemia, tenderá a consolidar sua força, empurrando as massas para fazer pressão sobre Congresso. A recíproca é verdadeira. Se a pandemia der sinais de descontrole e subir de maneira avassaladora o número de mortos e suspeitos de contaminação, será um deus nos acuda. O buraco negro a se formar pode engolir gregos e troianos, com um formidável choque eleitoral nas eleições municipais de outubro. Nunca uma eleição agrega tantos componentes.
Teoria conspiratória
De Tales Faria, colunista do UOL: “Oficialmente não deve sair nenhuma manifestação nesse sentido. Mas nas suas conversas reservadas com assessores e até com políticos mais próximos, o presidente Jair Bolsonaro associa a pandemia do novo coronavírus a um plano de recuperação econômica do governo chinês. A teoria conspiratória corre solta entre os bolsonaristas e é compartilhada pelo presidente e seus filhos. Basicamente diz o seguinte: toda vez que a China tem problemas econômicos aparece uma grande doença que se espalha pelo mundo causando crise nos mercados globais e diminuição no valor dos produtos importados pelos chineses“.
SP: 460 mil casos
Mesmo com as medidas que estão sendo tomadas em São Paulo, o infectologista David Uip, que coordena o Grupo de Trabalho criado para administrar a pandemia do Covid-19, faz uma projeção de 460 mil casos no Estado. Esse número equivale a 1% da população. O prefeito Bruno Covas decretou estado de emergência na capital com a finalidade de diminuir a circulação de pessoas.
O jumento e o sal
“Um jumento carregado de sal atravessava um rio. A certa altura escorregou e caiu na água. Então o sal derreteu-se e o jumento, levantando-se mais leve, ficou encantado com o acontecido. Tempos depois, chegando à beira de um rio com um carregamento de esponjas, o jumento pensou que, se ele se deixasse cair outra vez, logo se levantaria mais ligeiro; por isso resvalou de propósito e caiu dentro do rio. Todavia ocorreu que, tendo-se as esponjas embebidas de água, ele não pôde levantar-se, e morreu afogado ali mesmo. Assim também certos indivíduos não percebem que, por causa das suas próprias astúcias, eles mesmos se precipitam na infelicidade“. (Esopo)
Fecho a coluna com Napoleão.
A derrota
A derrota de Napoleão costuma ser atribuída ao inverno russo. Aliás, esse sempre foi o argumento usado pelo próprio. Mas o exército napoleônico estava arrasado bem antes de o inverno chegar. Napoleão deixou Moscou com cerca de cem mil homens. Em 12 de novembro de 1812, primeiro dia em que a temperatura caiu abaixo de zero, haviam sobrado apenas quarenta e um mil. Não foi apenas o frio do inverno que matou os soldados. Foram as doenças. O clima enfraqueceu os homens de Napoleão, mas a temperatura não estava fria o suficiente para matá-los. O exército de George Washington, décadas antes, sobreviveu a clima muito pior. A descoberta mais interessante dos historiadores é que o exército napoleônico provavelmente sofreu tanto com o calor como com o frio. O verão russo de 1812 foi tão quente que dezenas de milhares de seus soldados morreram de insolação e desidratação.
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Artigo Gaudêncio Torquato l O PÂNICO SE INSTALA
O PÂNICO SE INSTALA
GAUDÊNCIO TORQUATO
A vida é um eterno recomeço. Fosse escolher a lenda que mais se assemelha à sua vida, provavelmente o povo brasileiro colocaria a história do castigo de Sísifo entre as preferidas. Sísifo, que viveu vida solerte e audaciosa, conseguiu livrar-se da morte por duas vezes, sempre blefando. Rei de Corinto, não cumpria a palavra empenhada, até que Tânatos veio buscá-lo em definitivo. Como castigo, os deuses o condenaram impiedosamente a rolar montanha acima um grande bloco de pedra. Quase chegando ao cume, o bloco desaba montanha abaixo.
A maldição de Sísifo é recomeçar tudo de novo, tarefa que há de durar eternamente.
O povo se sente no estado de eterno recomeço. Padece das previsíveis tragédias provocadas por chuvas, com mortes que sobem no ranking das catástrofes; angustia-se nas filas do INSS; vê o dinheiro sumindo do bolso com a economia em recuo; e, agora, passa a temer com a foice da morte, que aparece aqui e ali escondida na forma de um vírus, de nome coronavírus, que não escolhe vítimas, atacando ricos e pobres. O mundo todo está tomado de pavor.
O pânico que começa a se alastrar deflagra uma cadeia de eventos e situações inesperadas. O corpo social é ferido de todos os lados. Suspensão de aulas, com efeitos sérios sobre o cronograma da vida escolar; diminuição de aglomerados e mobilizações de ruas e ambientes fechados, apesar de grupos com a síndrome do touro (arremetem com a cabeça e pensam com coração) não se incomodarem com isso; isolamento em casa ou em estabelecimentos hospitalares em quarentena, com semanas perdidas de trabalho; paralisação parcial de setores vitais da produção e dos serviços, perdas monumentais para a economia; débâcle das bolsas mundiais e da brasileira, que já perdeu cerca de 1 trilhão de reais com a desvalorização das companhias ali presentes; falta adequada de respostas à pandemia, seja por insuficiência das estruturas de saúde governamentais e privadas, seja por ausência de planejamento para enfrentar a crise.
Ao fundo desse panorama de desolação, enxergam-se paisagens de destruição, pequenas e grandes catástrofes: afundamento de barcos nos rios, quedas de barreiras nas rodovias e desabamento de casas; escândalos envolvendo governantes, políticos e empresários; ameaça de novos impostos; tensões acirradas entre os três Poderes; politicagem que se acentua em ano eleitoral, entre outros.
Os efeitos são catastróficos, pois o sistema de vasos comunicantes acaba contaminando os poros da alma nacional, inviabilizando aquele espírito público, fonte primária do fervor pátrio, que Alexis de Tocqueville, há quase 200 anos, constatou no clássico A Democracia na América: “existe um amor à pátria que tem a sua fonte principal naquele sentimento irrefletido, desinteressado e indefinível que liga o coração do homem aos lugares onde o homem nasceu. Confunde-se esse amor instintivo com o gosto pelos costumes antigos, com o respeito aos mais velhos e a lembrança do passado; aqueles que o experimentam estimam o seu país com o amor que se tem à casa paterna”.
Que amor à Pátria pode existir em espíritos tomados pelo pavor, pela violência de tiros a esmo, mortes por balas perdidas, marginalidade comandada de dentro das prisões? Que espírito público pode vingar no seio das massas quando grupos polarizados teimam em querer dividir o país em duas bandas, impulsionando os eixos da discriminação e bradando contra a liberdade de imprensa?
Brasileiros motivados a emigrar para realizar o sonho de uma vida melhor na América do Norte voltam à terra, expulsos, algemados, estampando frustração. Emigrar foi para eles a opção de milhares nesses tempos bicudos. Hoje, retornam à casa sob angustiante interrogação: o que vou fazer?
Onde e quando chegaremos ao andar da estabilidade? Por que a economia não melhora o nosso viver? Um fato: as margens embolsam seu dinheirinho no início de cada mês e, ao final, contam migalhas. Para piorar, com esta crise nas bolsas, viver sob a ilusão de ganhos inflacionários já não mais faz a cabeça do poupador.
A verdade é que o fator econômico dá o tom das nossas vidas. Consequentemente, os serviços sociais ficam com poucos recursos. O processo de reformas nunca chega ao fim. Mudanças na política? Quem sabe? Poderemos ver mais um levante em outubro próximo. Parecido com o que vimos em 2018.
Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação – Twitter@gaudtorquato
Mais análises no blog www.observatoriopolitico.org
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Porandubas Políticas – Por Gaudêncio Torquato – 11/03/2020
quarta-feira, 11 de março de 2020
Antes das notas sobre a gravidade do nosso momento, um pouco de humor.
Ô jardineira…
Na cidadezinha do norte do Rio de Janeiro, a procissão de Senhor Morto caminhava lenta e piedosa, na sexta-feira da Paixão, com o povo cantando, de maneira compungida, os hinos sacros. O velho padre na frente, o sacristão ao lado e os fiéis atrás, cantando as músicas que o vigário puxava. De repente um pequeno ônibus, que na região chamam de “jardineira”, passou perto e começou a subir a íngreme ladeira da igreja, bem em frente da procissão. No meio da ladeira, a “jardineira” afogou, encrencou, parou, deu aceleradas fortes e inúteis e começou a dar marcha-ré. Os fiéis não viram, mas o padre, atento, ficou apavorado. A “jardineira” já despencava numa grande velocidade. O padre gritou:
– Olha a jardineira!
E os fiéis começaram a cantar, em ritmo de samba:
– Ô jardineira, por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.
A “jardineira” descambou ladeira abaixo, até que parou. Não atropelou ninguém. Sob o olhar do Senhor Morto! Mas os fiéis não aguentavam de tanto rir.
Chegando ao pico da gravidade
A situação é mais grave do que os fatos aparentes indicam. Os fatos: uma denúncia feita pelo presidente Jair Bolsonaro em sua viagem última aos Estados Unidos. Disse de maneira clara, sem meios termos, que foi eleito no primeiro turno das eleições de outubro de 2018. Portanto, o pleito foi fraudado. Antes de sair do Brasil, em Boa Vista, Roraima, convocou o povo a ir às ruas em 15 de março. Intenção: mobilizar suas bases. E mais: a pandemia do coronavírus é mais uma fantasia. A crise das bolsas? Ah, para ele é coisa normal. P.S. Vejam a normalidade: entre 23 de janeiro e o pregão de segunda-feira, as companhias listadas no Ibovespa perderam R$ 1 trilhão em valor de mercado.
Militares incentivando
Os círculos militares, ao que se parece, incentivam o acirramento. Ontem, terça, o presidente do Clube Militar, general da reserva Eduardo José Barbosa criticou o que designou de “parlamentarismo branco”, afirmando que o Congresso está tentando desempenhar uma função atribuída ao Executivo. Na segunda-feira, a associação divulgara um comunicado de “solidariedade” aos atos convocados para o dia 15 de março em apoio ao governo do presidente.
General Heleno
O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, aparecia na abertura do governo como o conselheiro-mor, a voz do bom senso, a balança da moderação. Depois da desastrada fala em que disse que os parlamentares “chantageiam”, o general passou a ser visto de maneira atravessada pela esfera congressual. Os fatos estão a mostrar que interessa ao Executivo, a partir de seu núcleo duro, o acirramento da polarização, o que abre algumas linhas de pensamento.
A economia na ladeira
O primeiro argumento que se põe sobre a régua da análise é o fator econômico. Se a economia continuar a não dar os resultados tão esperados, e a falta de dinheiro no bolso apertar os estômagos, seria do interesse do Executivo pôr a culpa no Congresso. As bases bolsonaristas tomariam as ruas e a campanha de 2022, com o prelúdio de outubro deste ano, seria antecipada. Especula-se, até, com a saída de Paulo Guedes, que resultaria em caos político.
O coronavírus
Ao dizer que o coronavírus é mais fantasia, Bolsonaro aposta na administração da pandemia, com efeitos positivos no curto prazo. Uma aposta e tanto. E se recrudescer em nível internacional, poderá fazer a comparação com o Brasil. Se recrudescer por aqui, apontará novamente culpados na área política. Pelo visto e revisto, o capitão segue rigidamente a cartilha militar, com olhos no endurecimento, combate às esquerdas, eliminação das oposições. O quadro é tétrico. Quando se imagina que o mandatário-mor da Nação vai expressar uma palavra de paz, harmonia, equilíbrio, lá vem ele com mensagem de guerra.
TSE refuta, mas e daí?
O Tribunal Superior Eleitoral rebate a declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que a eleição de 2018 foi fraudada e reafirma que o sistema de urnas eletrônicas é confiável e auditável. “Ante a recente notícia, replicada em diversas mídias e plataformas digitais, quanto a suspeitas sobre a lisura das eleições 2018, em particular o resultado da votação no 1º turno, o Tribunal Superior Eleitoral reafirma a absoluta confiabilidade e segurança do sistema eletrônico de votação e, sobretudo, a sua auditabilidade, a permitir a apuração de eventuais denúncias e suspeitas, sem que jamais tenha sido comprovado um caso de fraude, ao longo de mais de 20 anos de sua utilização“, afirma o TSE, presidido pela ministra Rosa Weber. O texto tem também a autoria do ministro Luís Roberto Barroso, que assume o posto em maio. Os dois defenderam pessoalmente a segurança do sistema eleitoral brasileiro. Mas isso adianta alguma coisa? Onde estão as provas? E o que dizem as entidades de renome da sociedade civil?
Para onde vamos?
A repetição de expressões que provocam polêmica e geram tensões não vai parar. A índole presidencial não é de paz. E o capitão parece disposto a prosseguir nessa rota de tensões e rompimento de barreiras diplomáticas entre os três Poderes. Se o Congresso não avançar no capítulo das reformas, ficará com a pecha de ser contra o Brasil. Bolsonaro entraria de vez na vestimenta do embate, iria às ruas comandando suas tropas e algum impasse institucional ficaria à vista no horizonte. Onde está o bom senso das tropas?
O parlamento
Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, presidentes da Câmara e do Senado, pisam em ovos. Qualquer votação que possa ser considerada derrota do governo será fatalmente usada como argumento de que o Congresso atrapalha, dando vazão a essa última acusação feita pelo presidente do Clube Militar. Paulo Guedes perdeu força junto aos parlamentares. O general Luiz Eduardo Ramos, da articulação política, ainda não tomou rumo. O general Walter Braga Netto, que assumiu a função de coordenação dos ministérios, toma pé no terreno espinhoso.
O trunfo é paus
A frase mete medo, mas é necessária. Thomas Hobbes dizia: “Quando nada mais se apresenta, o trunfo é paus“.
Maquiavel
“Um príncipe precisa usar bem a natureza do animal; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos“. Conselho do velho Maquiavel, que arremata: “não é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las.”
Efeitos no meio da pirâmide
Que efeitos a estratégia de Bolsonaro e seu entorno terá junto a alguns estratos sociais? Vejamos. Quem acompanha de maneira mais atenta os fluxos e refluxos da política são os grupamentos que integram o meio da pirâmide. Aí estão as classes médias. O núcleo mais expressivo é formado pela intelligentzia, professores, acadêmicos, comunicadores, profissionais liberais, estes repartidos em uma miríade de constelações. As mais progressistas circulam no campo da produção e disseminação de ideias. Núcleos mais contrários ao governo de direita conservadora, que tendem a expandir sua indignação.
Setores conservadores
Mas há um forte nicho conservador no meio da pirâmide, particularmente representado por proprietários rurais, pequenos e médios comerciantes, empresários do setor urbano, redutos tradicionais que anseiam por ordem e disciplina, entre outros. É evidente que exercem influência em seu entorno. Tendem a reforçar o discurso autoritário do capitão. E, claro, há os ativistas e militantes que voltaram a circular no roçado da política. As pesquisas mostram que cerca de 30% do eleitorado estão na órbita do bolsonarismo. Mas contingentes que nele votaram se afastaram. O mandatário perdeu parcela de seu núcleo.
As margens
As margens periféricas são pragmáticas. Se o bolso puder arcar – e bem –com as despesas, Bolsonaro será prestigiado, com amplas possibilidades de vir a ser contemplado com o voto mais adiante. A recíproca é verdadeira. Fatores de influência: desemprego, economia na ladeira, fila do Bolsa Família, fila do INSS, renovação do Fundeb, endemias e pandemias. O governo e os políticos tendem a ser o alvo das coisas ruins que ocorrem no terreno das massas.
Coisas ruins? Fantasia
Em suma, o presidente Jair Bolsonaro acha que tudo vai às mil maravilhas; que seu governo é o melhor de todos os tempos (Lula também dizia a mesma coisa de seu governo); que o Congresso e o Judiciário atrapalham; que a imprensa é mentirosa; que os jornalistas são uns pândegos; enfim, que as coisas ruins não passam de ficção. Guerra do petróleo? Besteira. Coronavírus? Fantasia. Baque das bolsas? Exagero. E tome fala desembestada.
Fecho com uma pequena lição.
Esmagando o passarinho
Inflamado, o candidato eleva a fala no palanque. Argumentava que o povo livre sabe escolher seus governantes. Para entusiasmar a multidão, levou um passarinho numa gaiola, que deveria ser solto no clímax do discurso. No momento certo, tirou o pássaro e com ele, na mão direita, tascou: “a liberdade do homem é o sonho, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência. Deus (citar Deus é sempre bom) nos deu a liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade; quero que todos, hoje, aqui e agora, comprometam-se com o ideal da liberdade. Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir a soltura desse passarinho, que vai ganhar os céus“. Ao abrir a mão, viu que esmagara o passarinho. A frustração por ter matado o bichinho foi um anticlímax. Vaias substituíram os aplausos. Foi um desastre. Assim é o fim de candidatos que não controlam a emoção.
Livro Porandubas Políticas
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Artigo Gaudêncio Torquato l QUESTÕES EMERGENTES DE NOSSA DEMOCRACIA
Que a democracia representativa está em crise, aqui e alhures, não há como duvidar. O tema tem sido recorrente na mídia e nos trabalhos da Academia. Para amparar a tese, ora recorre-se aos mecanismos tradicionais da política, cuja deterioração se acelerou no final da década de 80, com a queda do Muro de Berlim; ora se pinça a lição de Norberto Bobbio, que lembra as promessas não cumpridas pela democracia.
Na primeira leva, mostra-se a derrocada das ferramentas clássicas da política, como a crise das ideologias, a pasteurização dos partidos políticos, o declínio dos Parlamentos, o arrefecimento das oposições, a desmotivação das bases eleitorais, a exacerbação do presidencialismo, com seu sistema perverso de cooptação, entre outros fatores. Em contraponto, criam-se novos polos de poder, como as entidades de intermediação social.
Na segunda vertente, a do filósofo italiano, descrevem-se as falhas dos sistemas democráticos, que prometeram eliminar o poder invisível, mas têm fracassado; dar um fim às oligarquias, proporcionar transparência aos governos e expandir os valores da cidadania, a partir da elevação dos níveis educacionais. Em seu livro O Futuro da Democracia, Bobbio descreve amplo cenário dos horizontes democráticos.
É evidente que, a cada ciclo histórico, novos ingredientes são acrescidos às planilhas que tratam da crise da democracia. Por isso, quando se planeja algum evento sob a chancela de “crise” na contemporaneidade das Nações democráticas, deve-se entender que as pautas a serem debatidas tratam de questões emergentes, algumas de caráter pontual, outras agravadas pela cultura política que integra a identidade do país em questão.
Vejamos, por exemplo, dois temas que estão na nossa ordem do dia: a politização das Forças Armadas e a “milicialização” das Polícias Militares. Assuntos que expõem a índole militar-autoritária do nosso presidente. De pronto, líderes desses dois contingentes poderão refutar: “não ocorre isso”. Trata-se de exagero por parte de jornalistas, políticos e analistas. Os temas até podem contemplar uma dose de exagero. Mas a quadra que estamos vivendo sugere que eles ameaçam os horizontes democráticos. Daí necessidade de abrir o debate.
A politização das Forças Armadas leva em conta o circulo de generais convocados para estar ao lado do presidente da República. Há duas visões sobre o tema: uma, integrada pelos participantes da roda, nega peremptoriamente a incursão das FAs na política. A não ser que seus integrantes o façam pela via partidária. Coisa que, aliás, se observou na eleição de militares em 2018. Outra ala, ancorada no profissionalismo, defende militares da ativa fora da política e atuando de acordo com a letra constitucional. O comandante do Exército, general Edson Pujol, lideraria essa linha.
Já quem passa para a reserva assume o papel de civil, e assim devem ser considerados os generais aposentados que formam o “núcleo duro do governo”. Mas o fato é que, de pijama ou sem, o número de generais convocados pelo presidente para lhes dar ajuda no Palácio do Planalto chama a atenção. São vistos como a força dos quartéis, sob a imagem de que constroem uma fortaleza de defesa presidencial. Esse traço exerce temor junto à parcela da sociedade e da esfera política.
A índole militar do presidente acaba funcionando como bastião contra eventuais ameaças externas. Quanto à milicialização das PMS, a inferência negativa é até maior, na esteira do que se passou no Ceará. Teria havido ali um “motim”? Policial pode fazer greve? Por indução, entende-se que os “amotinados”, sob a bandeira de melhores salários, poderiam se multiplicar país afora. Lembre-se que o termo “milícia” é empregado com certa malícia (sem trocadilho) para designar bandidagem, certamente com a intenção de interligar as milícias no Rio de Janeiro (e figuras ligadas à família Bolsonaro) com os quadros policiais nos Estados. Ao fundo, a lembrança de que a vida política do presidente Jair começou com a defesa de aumento de soldos para seus colegas.
Em suma, os dois temas são banhados pelas águas da polarização que toma conta do país. Sua inserção nos foros de discussão se justifica, até para que se dissipem dúvidas sobre intenções de duas forças que entram na lupa social.
O Instituto Brasil Mais Plural, formado por cientistas políticos, jornalistas, juristas e advogados, economistas, pessoas de denso pensamento, prepara para início de maio, em parceria com o CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola, um seminário em São Paulo sobre os fenômenos que pairam sobre nossa democracia. É hora de discuti-los à luz do bom senso.
Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação – Twitter@gaudtorquato
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Porandubas Políticas – Por Gaudêncio Torquato – 04/03/2020
Abro a coluna com o RN, nosso querido Estado.
“Aposentem o homem “
Dinarte Mariz governava o Rio Grande do Norte. Em uma de suas visitas à Caicó, visitou a feira da cidade, acompanhado da sempre presente Dona Nani, secretária de absoluta confiança. Dá de cara com um amigo de infância e logo pergunta:
– “Como vai, Zé Pequeno?”
O amigo, tristonho e cerimonioso, responde:
– “Governador, o negócio não tá fácil; são oito filhos mais a mulher… tá difícil alimentar essa tropa vivendo de biscate. Mas vou levando até Deus permitir”.
Dinarte o interrompe de pronto:
– “Zé, que é isso, homem, deixe essa história de governador de lado. Sou seu amigo de infância, sou o Didi”!
Vira-se para Dona Nani e ordena:
– “Anote o nome do Zé Pequeno e o nomeie para o cargo de professor do Estado”.
Na segunda-feira, logo no início do expediente, Dona Nani entra na sala de Dinarte e informa:
– “Governador, temos um problema, o Zé Pequeno, seu amigo, é analfabeto; como podemos nomear…”.
Antes que concluísse a fala, o governador atalha:
– “Virge Maria, Dona Nani! O Rio Grande do Norte não pode ter um professor analfabeto. Aposente o homem imediatamente”.
E assim foi feito!
(Historinha enviada por Lindolfo Sales).
A trama
Nunca se viu uma campanha tão infame contra o Congresso Nacional e, em escala um pouco menor contra o STF, como esta que aparece nas mídias sociais, onde se identifica o dedo claro do bolsonarismo radical. Nessa segunda, um vídeo com um trecho do filme Os Vingadores faz a dublagem com os atores ouvindo de um comparsa a trama, com os “10 mandamentos da maldade”, onde o mocinho é o presidente Jair Bolsonaro e o vilão é Rodrigo Maia, apresentado como o golpista que pretende instalar o parlamentarismo no país, e ele mesmo, presidente da Câmara, assumindo o cargo de primeiro-ministro.
A propósito de RM
Aliás, um dos alvos dos petardos palacianos e das hordas radicais, Rodrigo Maia, tem sido o principal artífice do avanço das pautas reformistas no Parlamento. Por isso mesmo, tem recebido tanta pancada do bolsonarismo, que não quer vê-lo como o grande articulador na Câmara dos Deputados, onde exerce liderança junto a todos os grupamentos da Casa. Tornou-se fiador dos avanços desde os tempos do governo Michel Temer. Ganhou respeito dos pares, o que provoca ciúmes e indignação dos extremados da claque bolsonarista.
O que está por trás
O vídeo tem um claro objetivo: dar forças às manifestações de rua, convocadas pelo bolsonarismo para o dia 15 de março, e apelar para que o povo entre na guerra contra o Congresso, que segundo a trama narrada e referendada por um locutor de rádio, de nome Fábio, tem por trás a aprovação de recursos do orçamento impositivo, a derrota de matérias de interesse do governo, e o consequente impeachment do presidente da República. O locutor arremata com a ideia de “destituir” Rodrigo Maia do posto de presidente da Câmara. Uma aberração.
O dedo do palácio
Como tem sido veiculado, é notório o interesse do Palácio do Planalto em adensar a onda contra os Poderes Legislativo e Judiciário. O próprio Bolsonaro tem dado guarida à trama, fazendo circular junto “aos amigos”, que o acompanham nas redes sociais, vídeos e convocações para o dia 15. Nos últimos dias, a massa crítica que se formou contra a estratégia bolsonarista arrefeceu os ânimos, mas parcela ponderável da militância radical continuou a alimentar o circuito social.
A extremidade
O fato é que a estratégia dos radicais é de extrema gravidade, eis que apela para que as massas abram guerra contra as instituições de nossa democracia, a partir do Legislativo e do Judiciário, sob o argumento de que o presidente da República carece de condições para governar. De maneira descarada, os radicais intensificam seu discurso, agem como a campanha de 2022 já estivesse nas ruas, formam uma corrente em torno do presidente, execram a representação política e magistrados da Suprema Corte, enfim, parecem querer resgatar os tempos de chumbo.
13 mil?
Comenta-se que o general Luiz Eduardo Ramos, que faz articulação política, tem uma pasta com uma lista de 13 mil cargos do governo de Bolsonaro ocupados por afilhados de políticos dos partidos. E que, portanto, a rixa entre Executivo e Legislativo não é para valer. Com a palavra, o ministro.
O que pode acontecer?
Imaginem, agora, o que pode acontecer se o Congresso vier a desaprovar os vetos, emendas e projetos do Executivo? As ruas tendem a ganhar movimentações barulhentas das galeras que formam as divisões do exército bolsonarista, mas grupos contrários se sentirão motivados a dar o troco. Não se pense que a maré bolsonarista está cheia. Pelo andar da carruagem, os segmentos contrários ao presidente – não ao governo, de forma ampla – formam boa maioria. Juntam-se, nesse caso, parcelas fortes dos blocos centrais aos de oposição. A polarização aumentará.
O efeito coronavírus
Os próximos tempos elevarão as inquietações. E se o coronavírus se expandir pelo território? O pânico terá efeitos sobre a cadeia econômica. E se a economia não apresentar crescimento – mesmo tênue – o foco da contrariedade recairá sobre o Executivo. Ainda bem que o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, age com cautela, seriedade e didatismo. Tem se mostrado capacitado a enfrentar o medo que a pandemia provoca. Corre a versão de que o calor dos Trópicos será barreira à propagação acelerada do vírus. Mas, e se o meado do ano, no inverno, for propício à sua expansão? Tempos difíceis. Rememorando: o coronavírus, presente em todos os continentes, já infectou quase 90 mil pessoas, matando 3.046 pessoas. Na Europa, os países relatam aumento constante do número de casos e as autoridades alertam a população para se preparar para grandes surtos.
Impacto na economia
A tensão provocada pelo avanço do coronavírus fez com que o mercado financeiro cortasse mais uma vez a projeção para o crescimento da economia brasileira em 2020. A expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) avance 2,17% neste ano. Antes, a previsão de crescimento era de 2,2%. É a terceira semana consecutiva que analistas financeiros consultados pelo Banco Central apostam em lentidão maior para a economia.
Brasil preparado
Sônia Racy, do Estadão, perguntou, e o médico Drauzio Varella respondeu:
O Brasil está mesmo preparado para combater o coronavírus?
Está. Acho que o mundo, de um modo geral, está mais preparado. E o SUS tem condições de atender. Só vai depender da quantidade de casos. Agora, a repercussão do coronavírus está em dissintonia com a realidade dos dados. Não há essa calamidade. Todo mundo que espirra vai para o pronto-socorro. Aliás, se você estiver tossindo e correr para o pronto socorro, lá é o melhor lugar pra pegar coronavírus.
O que se sabe de mais novo para enfrentar isso?
Estão tentando desenvolver antivirais que possam reduzir a patogenicidade do vírus. A taxa de mortalidade não é alta. Dados da China mostram que não há mortes de crianças de 10 anos pra baixo. Acima dos 80, o índice de morte é 4,8%. É parecido com índice de infecções respiratórias. E 90% das pessoas que venham a pegar esse vírus, transformarão isso num resfriado comum.
Acordo
Mesmo sob tensão, Poderes Executivo e Legislativo encontram pontos de acordo em torno do chamado orçamento impositivo das emendas parlamentares na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Governo e Congresso sinalizam concordância sobre o controle de cerca de R$ 30,1 bilhões do Orçamento deste ano. Proposta mantém nas mãos do Congresso os R$ 15 bilhões realocados de outras pastas e devolve ao Planalto a execução do restante. O governo encaminhou projeto regulamentando como os recursos previstos para 2020 serão executados. Ideia é que texto feche acordo com Câmara e Senado e os vetos de Bolsonaro sejam mantidos. Lembrando: Bolsonaro barrou o dispositivo que dava prazo de 90 dias para o Executivo liberar emendas ao Orçamento sugeridas pelos parlamentares. (Até o fechamento da coluna, nada se votou).
A competência de Guedes
Em meio às conversações sobre o veto ao Orçamento impositivo, o presidente Bolsonaro suspendeu “por tempo indeterminado” os poderes do ministro da Economia, Paulo Guedes, de abrir créditos orçamentários e remanejar gastos entre as áreas do Orçamento de 2020. O despacho foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) de ontem. Mas a explicação não demorou: sem segurança jurídica sobre o que pode e não pode na gestão do Orçamento impositivo, o governo foi obrigado a retirar, por prazo indeterminado, a competência delegada ao ministro da Economia. Portanto, a coisa estava combinada com Guedes.
Linha Moro
Diretor da Força Nacional, o coronel da PM-CE, Antônio Aginaldo de Oliveira chamou os policiais militares amotinados no Ceará de “gigantes” e “corajosos” pelo movimento salarial e melhores condições de trabalho. A Constituição Federal proíbe greve desses profissionais. Esse coronel da PM no Ceará se casou no mês passado com a deputada Federal Carla Zambelli (PSL-SP), uma das parlamentares mais próximas ao presidente Jair Bolsonaro. O ministro da Justiça Sergio Moro foi um dos convidados da cerimônia. A linha Moro em plena ação. Mas, e a Constituição?
Proteína extraterrestre?
Pelo ineditismo, faço o registro. Usando nova técnica de análise, cientistas afirmam ter encontrado pela primeira vez na história uma proteína de origem extraterrestre. O material analisado pertencia a um meteorito que atingiu a Terra há cerca de 30 anos. Segundo um artigo publicado no site de coletas de pesquisas científicas ArXiv, a Hemolithin é uma proteína que contém ferro e lítio. O texto também afirma que o agrupamento das moléculas do meteorito é capaz de absorver fótons e dividir água em porções de hidroxila e hidrogênio.
Fechando com um pouco de humor.
De cócoras
Plínio Gomes Barbosa era juiz de Direito em Monte Aprazível, São Paulo. Chegou um promotor novo: Edgar Magalhães Noronha. Na primeira audiência, o promotor estava todo cerimonioso:
– Doutor juiz, devo requerer de pé ou sentado?
– O senhor se formou há pouco? Onde?
– Minha escola o MEC fechou.
– Então requeira de cócoras.
Eu me retiro
Numa Vara da Fazenda, no interior de São Paulo, o perito era coronel do Exército e o juiz, Plínio Gomes Barbosa, não sabia. Houve discussão, o coronel começou a gritar, o juiz bateu a mão na mesa:
– Se o senhor continuar nesse tom, ponho-o daqui para fora.
– Não saio, não. Sou coronel do Exército.
– Então quem se retira sou eu, que sou reservista da 3ª categoria.
E deixou o coronel sozinho.
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