Paranbulas políticas por Gaudêncio Torquato.
Porandubas Políticas | Por Gaudêncio Torquato – 14/12/2022 |
Abro as Porandubas com as hilárias historinhas de “Seu Lunga”. Lembram-se do cearense muito educado?
Elevador
Seu Lunga, no elevador (no subsolo-garagem). Alguém pergunta:
– Sobe?
Ele:
– Não, esse elevador anda de lado.
Tá doente?
Seu Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta:
– Tá doente?
– Quer dizer que se eu fosse saindo do cemitério, eu tava morto?
Tá bom, pai
Seu Lunga dava uma tremenda surra no filho e o menino gritava:
– Tá bom, pai! Tá bom, pai! Tá bom, pai!
– Tá bom? Quando tiver ruim, você me avisa, que eu paro.
No polo Norte
O amigo liga para sua casa e pergunta a seu Lunga:
– Onde você está?
E ele:
– No Polo Norte! Um furacão levou a minha casa pra lá!
Levou os discos?
Na década de 70, seu Lunga chega num bar e fala pro atendente:
– Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir!
– Desculpe, seu Lunga, não posso botar música hoje…
– Mas por que?
– Meu avô morreu!
– E ele levou os discos, foi?
Agora, uma voltinha por nossas terras…
- Secos & Molhados
Simone
Simone Tebet, que ansiava pela Pasta da Cidadania, responsável pelo Bolsa Família, foi queimada pelo PT. Não vai para o lugar. É o que leio.
Mercadante
Mercadante, hoje presidente da Fundação Perseu Abramo, do PT, vai presidir o BNDES. E sustar o programa de privatizações. Gabriel Galípolo, economista, vai para a Fazenda. Mercado reage contrário aos perfis. Os juros futuros sobem ao espaço. Sinalização de descontrole nas contas públicas.
Ciumeira
O desempenho de Alckmin no governo de transição deu muita ciumeira no PT. O vice-presidente eleito será monitorado por mil olhos.
PF
Prepara-se para ingressar na era mais profissional. Sem ser alvo da mídia. Expectativas.
A grande expectativa
O governo de transição, cujos trabalhos se encerraram, hoje, trouxe muita expectativa. De mais de mil pessoas, pelo menos quinhentas continuam esperando participar do governo Lula.
Os escolhidos
Não tem havido surpresas, até o momento, na lista de ministros escolhidos por Lula. Tudo dentro do previsível.
Maria Lecticia
Acaba de lançar um livro sobre alimentos na Bíblia: “A Mesa de Deus”. Trata-se de um interessante trabalho de pesquisa da autora, que se debruça sobre o tema há 10 anos. A escritora vem a ser imortal na Academia Pernambucana de Letras e é esposa do imortal da Academia Brasileira de Letras, o maior especialista em Fernando Pessoa de nossas e outras plagas, o afamado advogado pernambucano, aclamado escritor José Paulo Cavalcanti Filho, que foi ministro da Justiça do governo Sarney. Uma formidável pessoa (Fernando…que o diga)!
Lula mais comedido
Lula leva para seu terceiro mandato o peso dos anteriores. Experiência. Ficou mais maduro. Mais tarimbado no trato de pressões e contrapressões. Não quer desperdiçar tempo. Veio com muita sede ao pote do poder.
Mourão e Damares
O atual vice presidente da República, Hamilton Mourão, vai ter um bom treinamento no Senado. Deve mudar a visão que tem dos políticos. E a senadora Damares Alves, a pastora, aprenderá na cartilha da política a ter menos visões radicais. O Senado lhe mostrará os caminhos da flexibilidade.
O general Heleno
Ao ter início o governo Bolsonaro, o general reformado Heleno, da Abin, conservava imagem de zeloso militar. Teve a imagem corroída pelo celofane da radicalização. Sai por baixo.
Zambelli e Kicis
As deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis também tiveram suas imagens vestidas com o manto da radicalização. Terão estofo para aguentar o tranco da política parlamentar nos próximos tempos? A conferir.
O bem e o mal
Os sofismas subiram o patamar da banalização nos vãos da política. Todos conhecem a expressão popular: nós somos o bem. O mal são os outros. Recordo, a propósito, a pergunta feita por Carl Jung a um rei africano sobre a diferença entre o bem e o mal. Às gargalhadas, o soba respondeu: “Quando roubo as mulheres de meu inimigo, isso é bom. Quando me rouba ele as minhas, isso é mau.” Recordo, ainda, a questão exposta por Alexander von Humboldt a índios da Amazônia para não comerem os colegas. Os índios responderam: “O senhor tem razão. Não podemos compreender que mal há nisso, pois os homens que comemos não são nossos parentes.” Esse duplo padrão ético, apontado pelo magistral intérprete do ethos nacional, o embaixador Meira Penna, continua a guiar os governantes.
Promessas, promessas
Em 64 A.C., Cícero, o mais eloquente advogado do ciclo de César, guiou-se por um manual de representação, produzido por seu irmão Quintus Tullius, para vencer a campanha ao Consulado de Roma contra Catilina. O roteiro sugeria modos de se apresentar e falar. Coisas assim: “Seja pródigo em promessas, os homens preferem uma falsa promessa a uma recusa seca.”
Outra promessa?
Mercadante, escolhido para presidir o BNDES, ex-coordenador dos programas do governo da transição, avisou: serão 35 ministérios. Um acréscimo e tanto dos 20 e poucos do desgoverno Bolsonaro. Lula, por sua, ao ser diplomado para seu 3º mandato, prometeu resgatar o país da miséria em que teria sido colocado. Mais uma promessa? Fará um governo plural? Ou um Ministério recheado de petistas, dando de costas à frente partidária que o elegeu?
A arte da representação
Entre nós, a arte da representação também tem sido bastante cultivada. Jânio Quadros dava ênfase à semântica por meio de estética escatológica: olhos esbugalhados, cabelos compridos, barba por fazer, jeito desleixado, caspa sobre os ombros, sanduíches de mortadela e bananas nos bolsos, que comia nos palanques, depois de anunciar para a massa, com ar cansado: “Político brasileiro não se dá ao respeito. Eu, não, desde as 6 horas da manhã estou caminhando pela Vila Maria e não comi nada. Então, com licença.” E devorava a fruta, sob os aplausos da multidão. Não tinha nenhuma fome. O ator histriônico havia se refestelado com uma feijoada, tomado um pileque, dormido na casa de um cabo eleitoral e acordado quase na hora do comício.
Aparência de dândi
Não causa surpresa o fato de que nossos políticos continuam exímios na arte de representar. O que causa reação negativa é a esquisitice de parlamentares cuja aparência estrambótica chega a agredir o cargo que ocupam. Em 1949, o deputado Barreto Pinto (PTB) – eleito pelo Rio, na época Distrito Federal –, fotografado de fraque e cueca samba-canção, foi cassado por falta de decoro. Idos tempos. Causa estranheza, hoje, a apropriação exagerada do instrumental das artes cênicas pelo ator político. Tal invasão os leva a substituir literalmente os teatros pelos corredores da Câmara e do Senado, a confirmar a previsão do especialista Roger Ailes, contratado por Nixon em 1968 para produzir seus debates na TV: “Os políticos terão de ser, um dia, animais de circo.” Menos dândis, que têm o prazer de amedrontar, causar surpresas, menos estrambóticos. É o desejo da sociedade.
Aparecer a qualquer custo
A tendência a disseminar a palhaçada pela seara política é mais que previsível diante de fenômenos que carimbam a vida parlamentar: escândalos envolvendo deputados e senadores, gestos e atitudes aéticos, velhas e novas formas de patrimonialismo, descrença geral na classe política. Ademais, o princípio que inspira a índole de grande fatia da representação é aparecer a qualquer custo. No Estado espetáculo, a visibilidade é chave mestra da competição. Há um lado da moeda que parece escapar ao crivo da classe que se esforça para demonstrar as lições de Stanislavski (1863-1938), Brecht (1898-1956) e Lee Strasberg (1901-1982), os três grandes mestres da arte dramática.
Menos circo
Teremos menos circo na próxima legislatura? Bom conselho aos apaixonados pelas luzes da TV pode ser o do general De Gaulle, que sempre procurou preservar a liturgia do poder: “Os maiores medem cuidadosamente suas intervenções. E fazem delas uma arte.” Menos plumas, lantejoulas, penachos, sungas, espadas, vestes de Tarzan, penduricalhos e estilos bombásticos. Mais substância, foco, ações concretas, atitudes firmes e corajosas. Menos circo e mais Parlamento.
O neocoronelismo
No Brasil, o passado é sempre revisitado. E com direito a reviver seus hábitos, mesmo os pérfidos. É o caso do coronelismo do ciclo agrícola, que castigava o livre exercício dos direitos políticos. Os velhos coronéis da Primeira República (1889-1930) consideravam os eleitores como súditos, não como cidadãos. Criavam feudos dentro do Estado. A autoridade constituída esbarrava na porteira das fazendas. Agora, neste ciclo conturbado, às vésperas de um novo governo a se instalar, o país se defronta com milícias. O império coronelista do princípio do século passado finca raízes no roçado do Rio de Janeiro.
Quadrilhas
A denúncia é de que comunidades do terceiro maior colégio eleitoral do país têm sido dominadas por milícias, quadrilhas comandadas por policiais que ameaçam pessoas que não elegeram seus candidatos. Com o bolsonarismo inconformado, é previsível o aumento das ações milicianas.
Reformar a administração?
Só se for com regime de engorda. Ao bater de frente no modelo de gestão capenga que domina a administração pública federal, Lula ajuda a entortá-lo com a ampliação exagerada de ministérios e secretarias especiais. O diagnóstico já é bastante conhecido: permanece o desequilíbrio entre a hiperatividade decisória e a eficiência de operação da burocracia governamental. A reforma na administração vai para as calendas.
O compromisso
Fernando Haddad, um perfil teórico, será mesmo ministro da Fazenda ou será o próprio Lula o comandante da economia? A crise de governabilidade, tão proclamada quando dela se faz uso para justificar a necessidade de se promover o ajuste fiscal e tributário, terá forte componente na esfera da execução das políticas públicas, na incapacidade de fazer valer as leis e no descumprimento das decisões mais altas. Afinal, o governo cumprirá o compromisso de fazer as reformas fiscal e tributária? Bernardo Appy vai para a Fazenda com Haddad. Você acredita, Luiz Carlos Hauly? Lula foi eleito pela terceira vez na esperança de levar a pedra dos ombros do povo até o cimo da montanha. Coisa que Sísifo não conseguiu.