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Porandubas Políticas | Por Gaudêncio Torquato – 07/10/2020

Abro a coluna com Arandu, São Paulo.

Emprego pro prural

Arandu, em São Paulo, começou sua história como pequeno povoado, no bairro do Barreiro, no município de Avaré. Em 1898, um pedaço de uma fazenda leiteira da região foi doado para a construção de uma capela. Elevado a distrito de Avaré/SP, em 1944 recebeu na ocasião a atual denominação. Em 1964, conquistou a emancipação política. No primeiro comício, os candidatos a prefeito exibiam seus verbos. Dentre eles, o matuto José Ferezin. Subiu ao palanque e mandou brasa:

– “Povo de Arandu, vô botá água encanada, asfaltá as rua, iluminá as praça, dá mantimento nas escola…”.

Ao lado, um assessor cochichou:

– “Zé, emprega o plural”.

O palanqueiro emendou:

– “Vô dá emprego pro prural, pro pai do prural e pra mãe do prural, pois no meu governo não terá desemprego”. (Historinha enviada por Marcio Assis)

Panorama visto da ponte

Da ponte entre a pandemia e os tempos tão esperados da pós-pandemia é possível distinguir traços do panorama: 1. Ela não irá embora, devendo dar as caras aqui e acolá, sem aviso prévio; 2. A Covid-19 deverá comparecer às urnas dentro da cabeça de eleitores medrosos, daí a previsão de que o índice de abstenção em 15 de novembro, junto aos nulos e brancos, deverá ultrapassar a casa dos 30%; 3. A campanha será nacionalizada nas capitais e grandes cidades, apesar do esforço de candidatos para deixá-la restrita aos espaços municipais; 4. O apoio de Bolsonaro a alguns candidatos será uma alavanca em rincões mais distantes, mas poderá se transformar um bumerangue (efeito contrário) em São Paulo, por exemplo. Tem mais pela frente.

Nuvens cinzentas

Ainda do meio da ponte da transição entre o Brasil pré e pós-eleição de novembro, são perceptíveis as nuvens cinzentas que baixam sobre alguns terrenos, como o da economia. A lei do teto deverá ser cumprida com muito esforço, após essa tentativa de reaproximação entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia. O presidente da Câmara chegou a pedir desculpas por ter sido grosseiro com Guedes. E este saiu do encontro confortado com as palavras e compromissos assumidos por Maia e Davi Alcolumbre. Vai se arrumar maneira de conseguir um dinheirão para o Renda Cidadã. Provavelmente da seara do Imposto de Renda. Mas os pedidos de “me dá um dinheiro aí” vão se multiplicar. E ofuscar a escalada de obras previstas. Dívidas de curto prazo chegam a R$ 1 trilhão.

Debulhando a espiga

Vejamos o que mostra a espiga de milho sobre o quadro eleitoral em São Paulo, o maior colégio do país. São Paulo sedia as maiores classes médias, os maiores grupamentos de profissionais liberais, os mais densos contingentes de trabalhadores, em suma, o mais contundente rolo compressor contra o status quo, e que contém: corrupção, maus serviços públicos, governantes desastrados, inércia e inação, etc. O pensamento racional do país se desenvolve com força em São Paulo. E o que as pesquisas dizem? O maior índice de rejeição em São Paulo é o de Bolsonaro, com 46%, sendo o segundo de João Doria, 39%. Ora, colar o nome de um ou outro candidato aos perfis rejeitados pode ser um bumerangue, fazendo efeito contrário.

Rejeição

A rejeição é uma das maiores barreiras enfrentadas pelos candidatos, que tendem a olhar apenas para os índices de intenção de voto. Russomano, com 24%, e Bruno Covas, com 18% na pesquisa Ibope estão no limite do empate técnico. Daí a necessidade de se fazer acurada leitura sobre a rejeição, os blocos que a fazem, a tendência de polarização, as maneiras como trabalhar a campanha para diminuir seus impactos. Urge lembrar, nesse momento, que as classes médias e os núcleos de profissionais liberais exercem extraordinária importância na moldura eleitoral – em um ambiente polarizado – por sua identidade de “pedra no meio do lago”. Jogue-se uma pedra no meio da lagoa e as ondinhas correrão até às margens. Essa é a capacidade de classes médias de influenciar o voto das margens.

Russomano e Covas

Celso Russomano construiu a imagem de defensor do consumidor com seus programas de TV ao longo de três décadas. Mas não entra bem no sistema cognitivo do meio da pirâmide, que o identifica como perfil demagógico, de viés oportunista. Já seu vice, o ex-presidente da OAB/SP, Marcos da Costa, poderá atenuar as bordas sujas da imagem russomânica. Bruno Covas tem o sobrenome do avô, Mário, cuja imagem é das melhores no campo dos valores. E enfrentou um câncer de maneira corajosa e até arrojada, merecendo o respeito da população. Mas não ganhou a lapidação do grande gestor, de um gerentão capaz de alavancar um forte programa de obras. Esses são alguns prós e contra dos dois candidatos que lideram a corrida municipal em SP.

Trumpinando

Esse presidente norte-americano, Donald Trump, é mesmo um fanfarrão. Recebeu a visita da Covid-19, mostrou medo, correu para um bom hospital, sob a assistência de médicos especialistas, tomou drogas fortes, recebeu doses de oxigênio, saiu no meio da sua “gripezinha” para um passeio em que acenou para simpatizantes, fechou os vidros do carro, com ameaça de contaminar os agentes secretos, recebeu alta e manda o recado: “não tenham medo desta Covid-19. Eu venci. Saiam às ruas”. E deve usar a pandemia como arma contra Joe Biden. Pilantragem não tem só por aqui.

Razão sobre emoção

Se a razão vencer a emoção, Trump estará perdido. Mas as suas bases se mobilizam sob a corrente da emoção. Iguais às de Bolsonaro. O voto sobe à cabeça, sim, mas com certa lerdeza.

Guedes

Paulo Guedes está mais humilde e, se não houver mais nenhuma turbulência, ele aguentará o voo até 2022. Mas são fortes os comentários no entorno da cúpula de que o ministro da Economia está com o copo quase transbordando.

Amiúde

A estudantada está esperta. Dia desses, um aluno de um grupo de trabalho da Universidade Federal do ABC, que se destaca pela qualidade de seu professorado, inseriu em um texto o advérbio amiúde. Um colega retrucou: por que não substituir por “com frequência”? A grita foi geral. Choveram protestos sob mensagens que pediam a permanência do advérbio. E indicavam letras de musicas: Chão de Giz, de Zé Ramalho: “Eu desço dessa solidão/Espalho coisas sobre um chão de giz/ Há meros devaneios tolos a me torturar/ Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde“; Geni e o Zepelin, de Chico Buarque: “De tudo que é nego torto/Do mangue e do cais do porto/ Ela já foi namorada/ O seu corpo é dos errantes/Dos cegos, dos retirantes/ É de quem não tem mais nada/Dá-se assim desde menina/ Na garagem, na cantina/Atrás do tanque, no mato/ É a rainha dos detentos/Dos moleques do internato/E também vai amiúde“.

O Brasil real

A nomeação do desembargador piauiense Kassio Nunes para o STF vai ser palatável com mais um pouco de tempo. Os evangélicos querem apenas fazer barulho e garantir a vaga de Marco Aurélio, aliás já prometida por Bolsonaro. O presidente percebeu que não governa sem articulação com o Congresso e o STF.

Em chamas

Pantanal, Amazônia, cerrado, caatinga nordestina sem água, o Brasil está em chamas. Perdas incontáveis. Meio ambiente só vai se recuperar em quatro a cinco décadas. O ministro Salles continua arrogante. A criminalidade chega ao ponto de combustão.

Brasil mais plural

Este consultor prevê na composição do primeiro andar do edifício político – prefeitos e vereadores – a construção de um Brasil mais plural, mais representativo das margens e do meio. A participação política de classes e categorias sociais será mais intensa e densa.

21 de outubro

Marcada para o dia 21 de outubro a sabatina de Kassio Nunes Marques no Senado. Passará tranquilamente. O desembargador é bom de articulação.

Campanha eleitoral

À guisa de ligeira orientação.

Conselho aos partidos

1. A negatividade costuma abrir campo nos espaços da mídia eleitoral. Procurem evitar campanhas negativas, caracterizadas por ataques e xingamentos a adversários.

2. Procurem compor programas eleitorais com exposições objetivas e propostas viáveis, demonstrando quanto custarão e de onde virão os recursos.

3. A procura de diferenciais para arrumar os perfis dos candidatos é uma meta desejável e todo esforço de marketing deve ser empreendido para consegui-la. É legítima a comparação de perfis quando dois ou mais contendores debatem suas diferenças no plano das ideias, não na esfera de vida pessoal.

Perfis à mostra

Tenho sido indagado sobre os perfis preferenciais do eleitorado. Cada região tem suas preferências. Há, porém, traços sobre os quais parece haver consenso:

– passado limpo, vida decente – candidatos que possam exibir sua trajetória sem ter vergonha de mostrar aspectos de sua vida;

– identificação com a cidade – candidatos que busquem vestir o manto da cidade, significando compromisso com as demandas das comunidades e as questões específicas dos bairros;

– despojamento, simplicidade – candidatos despojados, simples, descomplicados, sem as lantejoulas e salamaleques que costumam se fazer presentes no marketing exacerbado. Candidatos não afeitos ao ‘dandismo’ – mania de querer aparecer de maneira diferente;

– respeito, decência, dignidade pessoal – candidatos de postura respeitosa para com os eleitores e identificados com uma vida pessoal e familiar digna;

– transparência, verdade – candidatos que não temam contar as coisas como elas são ou foram;

– objetividade, viabilidade de propostas, concisão, precisão – candidatos de expressão objetiva e concisa, capazes de fazer propostas viáveis e não mirabolantes. Precisos na maneira de abordar os assuntos.

Fecho a coluna com a Bahia.

Grande prole

Da Bahia, vem a historinha. José de Almeida, contador do Banco do Brasil, fazia o cadastro da agência. Um dia, chega Heroíno Pita, fazendeiro, que respondeu na bucha o formulário: nome, idade, imóveis, renda anual, dívidas. Aí vem a pergunta:

– Quantos filhos o sr. tem?

– 8 filhos

– Tudo isso? O senhor tem uma prole grande.

Heroíno, entre sorridente e cabreiro, faz o gesto com as duas mãos:

– Não, senhor. É normal. Normal.

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