GOL: A ganância venceu a simpatia
A tabela de preços da GOL extingue nas categorias mais baratas benefícios gratuitos que já pareciam adquiridos pelos passageiros
Por Fabio Steinberg
A GOL anunciou com grande estardalhaço sua nova política de preços das passagens. Ao dividir os tickets em quatro categorias, na prática a companhia aérea criou classes diferentes de passageiros. Ou seja, os clientes que pagarem a tarifa 30% mais cara terão direito a tudo que é bom, inclusive poltronas mais confortáveis e espaçosas. No entanto, os que optarem pela mais barata, precisam comprar quase tudo por fora, exceto o oxigênio que respiram dentro do avião.
Esquizofrinia aérea
Na prática, a GOL está criando um modelo de negócios esquizofrênico. Transformou-se numa espécie de Dr. Jekyll e Mr. Hide (“O médico e o monstro”) da aviação. No mesmo avião convivem desde as práticas regulares das melhores companhias aéreas até as típicas de low-fare.
Neste seu segundo perfil a GOL lembra a odiosa irlandesa Ryanair. Aquela que sugeriu acabar com os banheiros e fazer os passageiros viajarem em pé, tudo que economizar espaço nas aeronaves.
O que mais chama a atenção da nova plataforma de preços é, digamos assim, a mesquinhez pela cobrança de itens que até pareciam ser quase direito adquirido do passageiro.
Precisava disto?
Dois exemplos. Fica proibido adiantar o voo para quem adquirir a passagem mais barata, apelidada de promocional. Mesmo se quiser pagar por isto. Já a categoria imediatamente mais cara, a Light, exige R$50,00 para obter o privilégio.
Quem não dispender entre R$10,00 (promocional) e R$20,00 (light) não poderá marcar assentos a menos de sete dias da viagem. Isto pode representar o risco de viajar separado de filho pequeno. Ou de idoso ou doente que exige cuidados especiais. Ou mesmo o acompanhante.
Somem-se os já conhecidos gastos com bagagens despachadas. No caso da GOL variam entre R$30,00 por unidade, se comprado com antecedência, até R$60,00, se negociado na hora do check-in.
Numa economia livre e competitiva é direito legítimo de cada companhia aérea taxar quanto bem entender por seus serviços. Afinal, quem não quiser que busque a concorrência. Mas será que uma empresa tão encantadora e bem-sucedida até hoje como a GOL precisava de medidas tão unha de fome? Onde foi parar o slogan “companhia inteligente”?
Transporte de massa
Ora, diriam os mais céticos. Quem quiser que pague mais caro para garantir regalias. Só que esta decisão, antipática e desnecessária, vai na contramão da filosofia do setor de que avião virou transporte de massa.
Atirar em itens menores como direito de anteceder voos ou escolher lugares dificilmente fará a GOL melhorar os resultados financeiros. O tiro teria sido muito mais certeiro e efetivo se mirasse em fatores de impacto, como os absurdos impostos cobrados sobre o combustível de aviação.
Ou então concentrar baterias na legislação obsoleta que afeta a lucratividade da aviação brasileira. Claro que esforços já estão sendo feitos neste sentido, só que exigem longo prazo para serem corrigidos. O que não faz sentido neste interim é penalizar o passageiro que só quer economizar na passagem de avião, não raro por motivos urgentes e graves.
Copiar só o que for bom
Espera-se que o mau exemplo da GOL, neste instante vendido como ganho para o consumidor, não se repita nos concorrentes. Afinal, além de contra produtivo para a imagem pública poderia dar a impressão de que existe um nocivo cartel em um setor tão vital para a economia.