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Hotéis disfuncionais: Aquela hospedagem dor de cabeça

A falta de planejamento põe em risco investimentos em hotéis que não atendem nem perfil do mercado nem operação.

Por, Fabio Steinberg

A hotelaria no Brasil vive um paradoxo. De um lado, cerca de 30% são redes altamente profissionais que adotam práticas compatíveis com o que há de melhor no mundo. Já nos outros 70% amontoam-se propriedades individuais que oscilam entre extremos. Há desde  empreendimentos que se tornaram exemplos de ótima administração até hotéis disfuncionais. Estes, apesar das boas intenções são vítimas do amadorismo ou incompetência.

Redes hoteleiras como Accor avaliam com muito critério local, mercado e público potencial antes de abrir nova unidade
Perfil do mercado

“O parque hoteleiro brasileiro ainda é insuficiente, mal distribuído, amador e familiar”, lamenta Caio Calfat. Não se trata de qualquer opinião, mas de alguém que é referência de mercado. Com mais de 30 anos de atividade como consultor, atende às principais construtoras, incorporadoras e operadoras hoteleiras brasileiras. Ele é mais que profissional gabaritado, autor de livros e grande acúmulo de títulos em entidades acadêmicas e imobiliárias de peso. É um apaixonado pelo seu trabalho.

Caio Calfat é um dos consultores de hotelaria mais respeitados do mercado

Caio representa uma categoria de especialistas do mercado hoteleiro que deveria ser levada mais à sério. Os seus comentários servem de alerta para investidores que teimam em agir como aprendizes de feiticeiro. Ao serem atraídos por uma atividade que parece simples e de lucro fácil, entram de gaiato em um negócio que nada entendem. Depois, amargam pelos erros ao tentar reinventar a roda por conta própria.

O mau planejamento pode criar espaços mal distribuidos e que afetam o produto hoteleiro
Falta de planejamento

A principal causa da inoperância dos hotéis é a ausência de planejamento prévio. Isto é vital para melhor avaliar o mercado, a viabilidade e dimensão do negócio, através de profissionais especializados. Sem isto, na maioria das vezes criam-se monstrengos que já nascem com falhas fatais de localização, arquitetura e funcionalidade.

A hotelaria brasileira recente está recheada de empreendimentos que deram errado. “Nos últimos seis anos, passamos de um extremo para outro. Primeiro, um período de crescimento econômico, euforia, mercado hoteleiro com preços nas alturas devido à Copa do Mundo Jogos Olímpicos. Depois veio uma fase de depressão, inflação, queda de demanda, crises política, econômica e de credibilidade, com queda nos preços”, avalia Calfat.

O Hotel Ariau, abandonado junto ao Rio Negro, na Amazônia, é um triste mausoléu de um projeto que deu errado.
Investimentos equivocados

Para o consultor, há várias cidades em que dezenas de hotéis foram construídos com vistas aos grandes eventos esportivos. Hoje apresentam a perigosa combinação de superoferta associada à baixa demanda. Mas há luz no fim do túnel: “A recuperação será lenta e  gradual, a partir da retomada do crescimento econômico”, afirma Caio.

Ele coloca o dedo na ferida. “Comparado aos grandes destinos turísticos mundiais, nosso parque hoteleiro ainda está em patamar inferior em termos de qualidade de produtos e serviços. Isto ocorre pela ausência uma política de turismo adequada, orçamentos robustos e planejamento que solidifique destinos turísticos”.

Mickey, o famoso aprendiz de feiticeiro, aprendeu a duras penas que não dá para improvisar no ofício

Fica a pergunta: ao invés de chamar o chaveiro depois que a casa foi assaltada, não teria sido bem mais prático e inteligente contratar especialistas antes de realizar investimentos?